Recentemente um dos setores
mais conservadores da sociedade viu sua condição de profissão liberal ser extinta
pelos operadores dos planos de saúde que exploram a mais-valia obtida através
da prestação dos serviços. Assim, aqueles que foram selecionados através de
provas excludentes nas escolas de medicina e que sonham algum dia virar
burgueses estão hoje na rua para lutar por reivindicações trabalhistas. Sim, os
médicos agora fazem parte da classe trabalhadora, mesmo que não tenham
consciência dessa nova relação com os meios sociais da produção.
O trecho acima é de um artigo
de Ricardo Palácios, médico colombiano com diploma revalidado no Brasil. Foi publicado
na revista Carta Capital em 07/07, logo depois de o governo brasileiro anunciar
a intenção de “importar médicos estrangeiros”.
O texto faz uma série de
considerações com que se pode concordar ou não. Menciona a situação precária
dos profissionais credenciados pela rede particular, mas não cita a
precariedade dos que trabalham no SUS. De qualquer modo, vale pelo alerta
para a “proletarização” da douta profissão.
Médicos também têm direito de errar. O mesmo vale para sindicalistas. Mas os sindicalistas médicos abusam desse direito ao concentrar seus protestos contra a “importação” de colegas
estrangeiros. De fato, se pensarmos na calamitosa situação do sistema de saúde
brasileiro, a medida é superficial, demagógica e beira a
irresponsabilidade.
Mas a mobilização da
categoria precisa avançar muito além disso. Os médicos conscientes têm que
assumir sua condição de trabalhadores. Deixar de agir como corporação e
unirem-se às lutas dos outros explorados. “Ei, você aí de jaleco, também é
explorado!” Não rima, mas é verdade.
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