Fredric Jameson, falecido recentemente, foi um teórico marxista estadunidense, cujas obras abordaram, principalmente, a cultura contemporânea.
Em "Arqueologias do Futuro", livro voltado para a ficção científica, ele afirma que uma das funções supremas desse gênero seria o “estranhamento” no sentido brechtiano.
O “estranhamento” proposto pelo teatro de Brecht busca distanciar o espectador da ação dramática. Incentivar nele uma atitude crítica e reflexiva em relação ao que está sendo representado. Exemplo dessa concepção são os famosos versos do dramaturgo alemão:
...em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural.
Nada deve parecer impossível de mudar.
As obras de ficção científica, afirma Jameson, nos fazem medir “a distância entre a capacidade criativa da mente individual e a plenitude imprevisível e inesgotável da história como aventura humana coletiva”. Ao mesmo tempo, “a suprema incapacidade do escritor em criar um universo genuinamente alternativo acaba nos trazendo de volta a este com muito mais segurança”.
O autor lembra a frase tristemente célebre da campeã do neoliberalismo Margareth Thatcher, ao defender a inevitabilidade do capitalismo: “Não há alternativa”. O que Jameson via na ficção científica é exatamente a incessante busca por alternativas.
Para ele, as melhores manifestações desse gênero promovem “uma renovação chocada da nossa visão que mais uma vez, e como que pela primeira vez, nos permite perceber a sua historicidade e a sua arbitrariedade. A sua profunda dependência dos acidentes da aventura histórica da humanidade”.
A obra de Jameson é uma aposta na utopia brechtiana contra o cinismo thatcheriano, esse lado sombrio da força que esconde e alimenta as distopias fascistas.
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