Eram todos neoliberais declarados? Não. Alguns governos até se diziam socialistas, como o espanhol e o grego. Várias medidas políticas e sociais pontuais também os diferenciavam. Quanto ao comportamento ético, parece que os piores roubavam e os menos piores só deixavam roubar.
Quanto às tragédias provocadas pelo neoliberalismo, variavam entre a tolerância frouxa e a cumplicidade entusiasmada. Por outro lado, foram sucedidos por governos que prometem fazer mais do mesmo. Tudo isso mostra o beco sem saída a que chegou a democracia que se limita a eleições institucionais. Um sistema em que as leis do mercado vão engessando a política oficial.
O resultado é o aprofundamento da crise. Algo que, pelo menos, serve para escancarar a formalidade vazia da democracia burguesa. Tome-se como exemplo a entrevista concedida pelo ministro finlandês Alex Stubb ao Financial Times, em 26/11. Segundo ele, os países da zona do euro melhor classificadas pelas agências de crédito deveriam ter maior influência nos assuntos econômicos da Europa que os outros membros da região.
A este respeito, o colunista americano Harold Meyerso fez o seguinte comentário em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo de 27/11:
O que Stubb está propondo, e os mercados estão fazendo, é, em essência, estender ao reino de países antes igualmente soberanos o princípio de "um dólar, um voto" que nossa Suprema Corte inscreveu em sua decisão Citizens United no passado. O requisito de que se deve possuir propriedade para votar - abolido neste país no início do século XIX pelos democratas jacksonianos - foi ressuscitado por poderosas instituições financeiras e seus aliados políticos. Para os países da união monetária europeia, a "propriedade" de que precisam para garantir seu direito de voto é uma classificação de crédito apropriada.É o retorno do voto censitário. Pelo menos, tem a vantagem de deixar as coisas mais claras.
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