Nas especulações sobre o formato de saída da crise, em “V” (queda e recuperação) ou “L" (queda e estagnação), entre outros, o que vem se impondo é o “K”: os mais ricos e companhias maiores ganhando e os trabalhadores e empresas menores empobrecendo, abrindo a distância entre os dois grupos.
Isso ocorre sobretudo por dois movimentos contrários: 1) o isolamento social atingiu em cheio o setor de serviços, repleto de vagas precárias e salários baixos; e 2) a avalanche de dinheiro barato dos bancos centrais têm chegado com mais facilidade às grandes empresas e provocado a rápida revalorização de ativos como ações.
Os parágrafos acima são bem claros. O que já era muito ruim no “velho normal”, no “novo normal” ficará ainda pior.
Na verdade, o coronavírus não provocou pandemia alguma. Ele causou apenas uma doença, cujos efeitos foram enormemente potencializados pela forma como nos organizamos socialmente. Suas trágicas consequências são como aqueles apitos tocando sem parar nas UTIs. Deveriam funcionar como um alarme a denunciar a múltipla falência do sistema todo.
Diante desses sinais de alerta, nossa espécie deveria providenciar correções ágeis e radicais em seu relacionamento com a natureza e consigo mesma.
Mas a humanidade é incapaz de fazer isso porque está dividida entre uma imensa maioria impotente e uma pequena minoria poderosa e irresponsável, vítima de outra patologia, muito mais grave e antiga. Há mais de 150 anos, Marx já havia identificado essa doença. Em alemão, ele a batizou de “Kapital”.
Leia também: A pandemia e os gatilhos do caos