Doses maiores

16 de dezembro de 2015

Rápidas e tristes considerações sobre a COP-21

A COP 21 foi encerrada sob o aplauso de seus participantes e da grande mídia. Nada mais enganoso.

O estadunidense James Hansen é considerado o pai dos alertas sobre as mudanças climáticas. Já em 1988, na condição de cientista da Nasa, ele já defendia a necessidade de reduzir radicalmente a poluição do ar. Quase 40 anos depois, Hansen considerou as negociações de Paris “uma fraude”.

A jornalista e ativista canadense Naomi Klein afirmou que as manifestações de protesto na capital francesa, fechando “ao tráfego uma rua cheia de lojas em um sábado à tarde antes do Natal, fez mais pela redução das emissões” de gases poluentes do que os participantes da Conferência.

Cabe destacar ainda algumas considerações feitas pelo ambientalista britânico George Monbiot em seu texto “Aquecimento global: um estranho evento em Paris“:

A Cúpula do Clima foi, ao mesmo tempo, avanço e desastre. Formou-se consenso inédito sobre gravidade da ameaça. Mas lobbies bloquearam as medidas indispensáveis para enfrentá-la. Comparado com aquilo que poderia ter sido, é um milagre. Comparado com o que deveria ter sido, é um desastre.
            (...)
A extração de combustíveis fósseis é um fato duro. Mas não faltam fatos suaves ao acordo de Paris: promessas escorregadias e que podem ser desfeitas. Até que resolvam manter os combustíveis no solo, os governos continuarão a sabotar o acordo que acabam de fazer.

Por fim, Monbiot não mede as palavras: “...deixe que os delegados se congratulem por um acordo melhor do que poderia ser esperado. E que o temperem com um pedido de desculpas a todos aqueles a quem a conferência irá trair”.

A PM que mata e a PM que morre

A Agência Pública publicou “396 mortes pela PM paulista: as histórias por trás dos BOs”. A reportagem de Ciro Barros, Iuri Barcelos e José Cícero da Silva analisou 330 boletins de ocorrência relacionados a 396 mortes por intervenção policial em São Paulo, em 2014.

Os resultados mostraram o que já se sabe. A grande maioria das vítimas dos policiais eram jovens negros, entre 15 e 29 anos. Além disso, os dez bairros mais ricos de São Paulo registraram uma mortalidade policial 27 vezes menor que nas outras regiões. Portanto, os dados voltam a confirmar que as vítimas da polícia têm idade, cor e endereço bem definidos.

Mas há uma informação que merece atenção. Enquanto 396 vítimas civis foram mortas, nenhum PM morreu e apenas 17 ficaram feridos. Por outro lado, no ano passado, oito policiais militares morreram em serviço e outros 129 ficaram feridos. Mas “a maioria desses casos não ocorreu em situações envolvendo mortes de civis pela PM”, diz a matéria.

Esses números desmentiriam a ideia de que a alta letalidade policial resulta de ações contra bandidos fortemente armados e violentos. Além disso, mostrariam que há alguns setores da PM encarregados de executar criminosos ou suspeitos e outros, abandonados à sua própria sorte.

Em comum entre os que morrem e os que matam, salários baixos e origem pobre. A diferenciá-los o apoio que os últimos recebem da alta hierarquia, desde o governador aos coronéis. Para estes, só importa que os mortos, civis ou militares, continuem a ser os mais pobres e pretos.

Como alertou o jurista Eugenio Zaffaroni, à criminalização da pobreza, corresponde sua “policização”.

Leia também: A criminalização da pobreza e sua “policização”

15 de dezembro de 2015

Pior do que tá, fica sim!

Um deputado federal, campeão de votos, em sua campanha eleitoral usava o seguinte bordão: “Pior que tá, não fica. Vote em Tiririca!”. Não é bem assim, Vossa Excelência.

Em 11/12, o portal Outras Palavras publicou artigo de Joseph Kishore intitulado “Assim se prepara uma nova Guerra Mundial”. O texto alerta para a ampliação da intervenção militar de Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Alemanha na Guerra da Síria.

Segundo Kishore, trata-se de um movimento de “recolonização do mundo” em que “as velhas potências tentam participar do ‘neobutim’”. O agravante, diz ele, é que o conflito “já se vai convertendo em ‘guerra por procuração’ contra a Rússia”.

Kishore afirma ainda que:

A situação geopolítica é hoje mais explosiva que em qualquer outro momento anterior, desde as vésperas da 2ª Guerra Mundial. Acossada por crise econômica e social para a qual a classe das elites governantes não tem resposta progressista a oferecer, aquela classe das sempre mesmas elites cada vez mais recorre à guerra e ao saque, como a única resposta que conhecem para quaisquer das suas dificuldades.

Enquanto isso, no artigo “O lado negro da internet das coisas”, publicado na Folha em 14/12, Ronaldo Lemos anunciava uma tecnologia chamada “Pavlok”, relacionada a “correções de comportamento”. Segundo o texto, um de seus aplicativos:

... se chama Wake Up, um despertador na base do choque. Outro tem o nome de Productive e monitora seus hábitos na rede, dando um choque quando você se desvia do trabalho. Há também o Fit, que acompanha sua alimentação e exercícios, punindo o usuário se ele fugir das suas metas.

Socorro, Tiririca!

14 de dezembro de 2015

Para bom entendedor, meia palavra bas...

Política e lustra-móveis

Fim de semana passado, houve eleições municipais na Arábia Saudita. Pela primeira vez mulheres puderam votar e ser votadas. Mas nenhum candidato, homem ou mulher, pode exibir suas fotos em cartazes ou propagandas. A medida foi adotada para evitar que a exposição de rostos femininos atraísse a ira dos fundamentalistas islâmicos.

Não pelos mesmos motivos, bem que poderíamos adotar a mesma medida por aqui. Afinal, quem vê cara, não vê proposta. Até porque a grande maioria dos políticos profissionais anda usando lustra-móveis como creme de barbear.

A ciência a serviço da doença

Deu no Globo, em 11/12: integrantes de uma ONG no Reino Unido fingiram ser representantes de uma companhia de petróleo e encomendaram ao cientista William Happer, da universidade de Princeton, um relatório sobre os benefícios do petróleo e do gás. A US$ 250 por hora, o especialista topou o trabalho e aceitou não revelar quem se propôs a pagar pelo estudo.

Nos anos 1950, estudos já demonstravam que fumar provoca câncer e muitas outras doenças. A indústria do tabaco contra-atacava com pesquisas patrocinadas secretamente junto a cientistas dispostos a dizer o contrário por generosas quantias. Médicos apareciam fumando em anúncios.

Neste último caso, as vítimas eram milhões de pessoas. No anterior, podem ser vários bilhões.

No Google, Papai Noel não existe

Levantamento mostra que 52% das crianças brasileiras descobrem que Papai Noel não existe consultando sites de busca, diz matéria do Jornal do Brasil de 09/12.

Pesquisa semelhante poderia descobrir a enorme quantidade de adultos que acreditam nos mitos que são criados pelas redes virtuais, não desmentidos por elas.

10 de dezembro de 2015

A COP-21 e seus patrocinadores sujos

O grande objetivo da 21ª Convenção da ONU sobre Mudança Climática (COP-21) é reduzir o ritmo de aumento da temperatura média global diminuindo a emissão dos gases resultantes da atividade industrial.

Os primeiros países a fazer isso deveriam ser os altamente poluentes. Pelo menos, é o que ficou determinado na Eco-92, no Rio de Janeiro. Mas nenhum deles cumpriu suas metas de redução.

Agora, os países altamente industrializados estão dizendo que o mundo mudou muito desde 1992. Países como Brasil, Índia, China também se tornaram grandes poluidores. Deveriam ser responsabilizados na mesma medida.

O que ninguém diz é que grande parte dos lucros resultantes dessa industrialização tardia continua a beneficiar os grandes poluidores desde sempre. Eles exportaram a poluição para longe de seus territórios, mas continuam recebendo seus benefícios através de suas multinacionais.

Os governos em geral dizem que reduzir a atividade industrial causaria desemprego e sofrimento econômico. Pode ser, mas, o maior temor mesmo é diminuir os lucros dos que financiam a eleição de praticamente todos os participantes da COP 21.

Também foi aprovado em 1992 a ajuda financeira dos países industrializados para a redução de emissões nos países menos poluidores. Mas poucos recursos chegaram a estes últimos. E o maior debate da COP-21 continua sendo sobre financiamento.

Nem tudo é polêmica, porém. Quem vai pagar mais no combate à crise climática, não se sabe. Mas é fácil descobrir quem financia a própria crise climática. A começar pela COP-21. EDF, Renault, Air France, BNP Paribas, entre outras grandes empresas produtoras e consumidoras de petróleo e carvão, são os principais patrocinadores do evento.

9 de dezembro de 2015

Rio: cidade olímpica, cidade para poucos

O Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro acaba de lançar o Dossiê Megaeventos e Direitos Humanos no Rio de Janeiro. Trata-se de um levantamento detalhado das violações dos direitos humanos causadas pelos megaeventos, desde a Copa do Mundo de 2014.

O foco agora são as Olimpíadas 2016, envolvendo moradia, transportes, trabalho, esporte e segurança pública, entre outras questões.

O irônico é que uma das primeiras vítimas dos Jogos foi o próprio esporte. O estádio de atletismo Célio de Barros, pertencente ao complexo do Maracanã, por exemplo, foi fechado em 2013.

Desde então, as cerca de 800 pessoas que frequentavam suas instalações diariamente estão sem onde treinar e competir. A grande maioria formada por atletas sem dinheiro para acessar clubes e academias.

Mais de 22 mil famílias já foram removidas de maneira autoritária e injusta. Deslocadas para abrir espaço a projetos imobiliários de alto luxo ou centros comerciais e empresariais.

Segundo o documento, o orçamento da Olimpíada alcançaria RS 38,7 bilhões de reais. Mais de R$ 10 bilhões acima do orçamento da Copa do Mundo, que construiu 12 arenas superfaturadas e voltadas para a elite.

O dossiê também mostra que o poder público entra com a maior parte desses recursos. De fato, como aconteceu em outras sedes olímpicas, os Jogos são um pretexto para privatizar os espaços públicos e expulsar os mais pobres de áreas posteriormente entregues à especulação imobiliária.

Talvez inspirados no Olimpo dos deuses gregos, os três níveis de governo tentam tornar a cidade do Rio de Janeiro um lugar confortável apenas para alguns poucos poderosos.

Baixe o dossiê aqui.

Leia também: Olimpíadas e nazismo marchando juntos

8 de dezembro de 2015

Para bom entendedor, meia palavra bas...

Objetos sexuais

Em 07/12, a Folha publicou “Robôs que fazem sexo ficam mais reais e até já respondem a carícias”, de André Zara.

Segundo a matéria, a companhia americana True Companion seria a primeira do mundo a fornecer robôs sexuais. Seus modelos Roxxxy são vendidos desde 2010, “podem ter aparência customizada” e “cinco opções de personalidade pré-programadas”, da mais comportada à ousada. O preço? US$ 7.000.

Fazendo o contraponto, Kathleen Richardson, pesquisadora de ética em robótica da Universidade De Montfort (Reino Unido), lançou a campanha "Não Faça Sexo com Robôs".

Para ela, “as máquinas reforçam os estereótipos e transformam as próprias pessoas em objetos”. Kathleen tem toda razão. Não é a tecnologia que se humaniza. São as relações sociais que regridem, reduzindo-se a aparências e funcionalidades.
        
Meteorologistas que são mandachuvas

“Processo de impeachment causará megatempestade na economia, dizem analistas internacionais”. Este é o título da reportagem que Fernando Duarte publicou na BBC Brasil em 03/12.

Para Angela Bouzanis, economista da Focus Economics, o processo poderá representar “o pior momento para o Brasil”. Jill Hedges, vice-diretora da consultoria Oxford Analytica, prevê “um novo rebaixamento da economia brasileira pelas agências de classificação de risco”. Já Robert Ward, da Economist Intelligence Unit, acha que “as discussões sobre o afastamento de Dilma prometem causar danos que aprofundarão a crise econômica”.

O problema com essas avaliações é que são feitas por meteorologistas que também são mandachuvas. Suas antecipações estão mais para ameaças que para previsões.

Leia também: Para bom entendedor, meia palavra bas...

7 de dezembro de 2015

Impeachment: entre o terror e o terror

“Antes um fim com terror que um terror sem fim”, diz a famosa frase de Marx em “O 18 Brumário”. E é assim que o governo Dilma parece ter recebido a aprovação do pedido de impeachment.

Diante de todas as incertezas que vêm se arrastando por meses, a definição quanto à possibilidade de deposição da presidenta seria a melhor saída, desde que derrotada a abertura do processo de impeachment.

Admitido o processo, no entanto, um novo período com ainda mais e maiores incertezas deve começar.

Afinal, foram necessários quatro meses para derrubar um presidente completamente desmoralizado e abandonado como Collor. Não é o caso do governo petista, que ainda conta com relativo apoio parlamentar e entre os movimentos sociais.

Além disso, a acusação que pesa sobre Dilma não tem nada a ver com corrupção. As chamadas “pedaladas fiscais” possivelmente nem tenham relação direta com as funções presidenciais. Daí, o caráter golpista do pedido de impeachment.

Por outro lado, um julgamento feito pelo Senado teria um forte caráter político, podendo simplesmente ignorar os fundamentos jurídicos envolvidos.

Portanto, nos muitos meses em que se arrastaria o processo, a pressão popular seria decisiva. Mas se ela será mais favorável ou contrária a Dilma, depende muito do cenário econômico. E este se deteriora rapidamente.

Porém, o que realmente importa destacar é que, na batalha do impeachment, as principais forças políticas institucionais em choque concordam apenas sobre uma questão. Querem tranquilidade para fazer o ajuste neoliberal exigido pelo grande capital.

Ou seja, terror sem fim ou fim com terror podem significar a mesma coisa para a grande maioria da população.

Leia também:
O governo petista e a dieta das onças


4 de dezembro de 2015

O governo petista e a dieta das onças

“Cutucando onças com vara curta”. É assim que André Singer, ex-porta voz do presidente Lula, definiu a situação de Dilma Roussef em uma entrevista publicada pelo El País, em 10/10. Bem antes da atual confusão, portanto.

Segundo Singer, o governo Lula teria conseguido montar uma aliança entre “a classe trabalhadora organizada e o setor industrial”, em 2010. O acordo teria dado origem a um documento assinado por Fiesp, CUT e Força Sindical, em maio de 2011.

Entre as reivindicações, “redução dos juros, desvalorização do real, favorecimento do produto nacional, combate ao capital especulativo, política industrial, desoneração da folha de pagamento...”. Exigências que teriam desagradado os banqueiros, diz o entrevistado.

Mas no final de 2012, diz Singer, “a burguesia industrial começa a se afastar, apesar de todas as reivindicações terem sido atendidas” pelo governo Dilma. Teriam voltado a se aliar ao setor financeiro, exigindo a “disciplina fiscal” que faz a alegria dos especuladores. A isso, o governo petista viria a responder com um vergonhoso recuo, uma vez reeleito.

Singer levanta hipóteses sobre as razões da mudança de posição dos empresários, mas deixa de lado o principal. Com onças não se deve fazer alianças e muito menos cutucá-las, sob o risco não desprezível de que acabem jantando o provocador.

Agora, o governo petista pede socorro aos movimentos sociais e muitos outros setores explorados não incluídos na aliança de 2011. Mas continua a reafirmar sua intenção de manter a dieta exigida pelos felinos que começam a devorá-lo.


3 de dezembro de 2015

COP-21: clima pesado para quem luta pelo planeta

Começou a 21ª Convenção da ONU sobre Mudança Climática (COP-21). São mais de 150 chefes de Estado em Paris. Portanto, as chances de confusão são grandes.

Mas confusão, realmente, é a que reina entre a grande maioria da população. O maior problema ambiental atual é o aquecimento global. No entanto, há muita imprecisão quanto ao que esse fenômeno significa.

Por exemplo, o aumento médio da temperatura do planeta não impede que ocorram variações radicais de temperatura, em que ondas de forte calor podem se alternar com ondas de frio extremo. Esta alternância costuma ser explorada pelos que negam a elevação da temperatura global.

Ocorre que há uma confusão entre clima e tempo. O primeiro pode variar bastante em períodos curtos, como dias e semanas. Já o acompanhamento do tempo, tem mostrado uma elevação constante das temperaturas desde a Revolução Industrial, revelando suas causas humanas e a impressão digital do capitalismo.

Mas surgiu uma outra confusão na COP-21. Esta bem menos sutil. Segundo reportagem de Laurent Borredon e Adrien Pécout, publicada no Portal Uol, em 01/12, dias antes da abertura do evento, “várias buscas e prisões domiciliares foram feitas contra ativistas de ocupações e ambientalistas em toda a França”.

As detenções foram feitas com base na nova legislação sobre “estado de emergência”, aprovada sob o pretexto de combater o terrorismo.

Às costumeiras confusões que favorecem o grande capital poluidor, acrescente-se, agora, a muito conveniente falta de distinção entre manifestantes e terroristas. Ou seja, o que se pode prever com alguma exatidão é que as nuvens escuras e pesadas do fascismo de Estado se acumulam no horizonte.

2 de dezembro de 2015

Pedagogia da bala e do cassetete

Praça do Conhecimento, Nova Brasília, Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. É lá que fica a escola Theophilo de Souza Pinto. Dentro da escola, uma Unidade de Policiamento Pacificadora (UPP). São cerca de 70 buracos de balas nas paredes do prédio, segundo reportagem da agência Pública, publicada em 30/11.

Pavuna, Rio de Janeiro, Colégio Estadual Jornalista Rodolfo Fernandes. Inaugurado em março de 2014, conta com 796 alunos. “Desde maio deste ano, cinco deles morreram baleados, quatro por tiros disparados pela Polícia Militar”, diz reportagem do Globo, em 02/12. Entre eles, Carlos Eduardo da Silva de Souza, de 16 anos, um dos cinco jovens fuzilados pela PM com mais de 100 tiros dentro de um automóvel, em 28/11.

“A gente já está acostumado com isso”, disse um aluno de 17 anos, colega de turma de “Carlinhos”, à mesma reportagem.

Desde novembro, estudantes paulistas iniciaram uma onda de ocupações em escolas da rede estadual pública contra o fechamento de 93 delas.

Madrugada de 02/12, escolas estaduais República do Suriname, no Itaim Paulista, e Coronel Sampaio, em Osasco. Na primeira, diz o Diário do Centro do Mundo:

... o marido da diretora da escola junto com um grupo de pessoas encapuzadas invadiu a ocupação e tomou a escola. Em Osasco, a invasão foi comandada por grande número de policiais e na manhã de hoje a escola foi aberta para a imprensa completamente destruída. Até fogo foi ateado e a culpa, obviamente, atribuída aos alunos.

Segundo Michel Foucault, a escola moderna é produto da mesma lógica que criou prisões, hospitais, quartéis...

Foucault é para os fracos, diriam nossos governantes.

Leia também: Ocupar as escolas, educar para a liberdade

1 de dezembro de 2015

Ocupar as escolas, educar para a liberdade

Publicada em abril de 2014, a pílula Escolas públicas, só para minorias disciplinadas tinha como tema um estudo da Fundação Lemann que atribuía grande parte dos problemas do sistema escolar nacional à indisciplina reinante entre a maioria dos alunos.

Segundo aquela pesquisa, a escola pública estaria muito bem se a grande maioria de seus alunos não atrapalhasse. Mas, na verdade, dizia o texto, é exatamente o comportamento dessa maioria que atesta a falência do modelo educacional moderno, inspirado em quartéis, mosteiros e hospícios.

Afirmava, ainda, que a saída para esta situação viria da rebeldia que o próprio sistema provoca. Não a revolta cega, mas aquela que liberta a criatividade necessária a qualquer verdadeiro processo de aprendizado.

Desde o início de novembro passado, os estudantes da rede pública estadual de São Paulo vêm ocupando suas escolas. O objetivo imediato era impedir o fechamento de 93 unidades programado pelo governo Alckmin. Mas o número de escolas ocupadas já chega a quase 200.

Diante do ataque a suas comunidades escolares, os estudantes se descobrem questionadores de um modelo educacional autoritário. Inventam atividades didáticas, organizam debates, descobrem material e equipamentos abandonados e mofando em salas trancadas.

Em resposta, o governo tucano utiliza a violência policial, única política que conhece para os mais pobres.

Infelizmente, é provável que essa saudável onda de rebeldia seja esmagada pela truculência policial combinada às mentiras e traições em que se especializou a política institucional. Mas, mais uma vez, nossas escolas públicas terão provado que podem superar os limites que o poder tenta lhes impor e podem educar para a liberdade.