Em 1938, H.G. Wells publicou um ensaio prevendo a
criação de uma biblioteca reunindo todo o conhecimento produzido no mundo. Uma espécie
de “Cérebro Mundial”, título do texto.
Em 2013, Ben Lewis lançou o documentário “Google, o
Cérebro Mundial”, comparando as pretensões da poderosa empresa estadunidense às
previsões de Wells. Mais especificamente, em relação ao Google Books, voltado à
digitalização de todos os livros lançados no planeta.
Desde então, os desenvolvimentos de aplicativos
digitais parecem caminhar não apenas em direção à tal biblioteca mundial. Ao
nos oferecerem seus serviços, Google, Facebook e outras empresas semelhantes se
apropriam de nossas informações e hábitos para negociar no mercado.
O mais recente lançamento nesse sentido é o smartphone
Pixel, da Google. Ele traz um sistema operacional que pretende saber tudo de
seu usuário. De gostos estéticos e culinários ao tipo preferido de decoração
residencial.
Mas o maior problema não é apenas a geração
de enormes lucros às custas de nosso trabalho gratuito. Grave, mesmo, é que o
uso dessas informações tende a reafirmar nossos hábitos, costumes, valores. Um
mecanismo que nos isola de contradições e diferenças e pode rebaixar nossa
dimensão pessoal ao nível raso do consumismo.
Os computadores pessoais são as mais
ambiciosas de nossas ferramentas. Sua principal função é imitar o cérebro
humano. Mas as recentes inovações em engenharia da informação os transformaram
em próteses mais que em ferramentas. Ao invés de auxiliar nossas percepções e
habilidades, pretendem substituí-las.
No entanto, os próximos passos podem
ir ainda mais longe. No lugar de substituir nossas capacidades e disposições mentais,
as próximas próteses ameaçam mandar nelas.
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