A Comuna abriu uma espécie de fenda no tempo histórico, diz Kristin Ross, em seu livro “Luxo Comunal: o imaginário político da Comuna de Paris”. Marx estava atento a isso, mas também a importantes implicações espaciais.
Para ele, o efeito mais importante e imediato dos diferentes modos de organização da vida social e econômica propostos pela Comuna foi dar maior visibilidade à existência de sociedades não capitalistas fora da Europa.
Na comuna camponesa russa, ele vê traços do "comunismo primitivo" que observara na Comuna de Paris: “indivíduos que se comportam não como trabalhadores, mas como membros de uma comunidade. Comunidade que também trabalha”.
Mas tanto num caso como no outro, Marx considerou sua primeira fraqueza o isolamento.
As comunas podem se constituir como núcleos autônomos, mas, afirma a autora, sua sobrevivência depende de mediações relacionais. Aqui, bem antes de Gramsci e Mariátegui, e numa perspectiva bastante semelhante à que cada um deles desenvolveria 40 anos depois, Marx coloca a necessidade de uma aliança entre camponeses e operários, mas em escala mundial.
Para Marx, diz Kristin, a Comuna de Paris deu origem a um aprendizado prático no desenvolvimento de relações entre a cidade e o campo francês, depois entre o campo e o mundo além da Europa.
A realidade vivida no campo russo poderia doravante ser percebida em sua especificidade. Não como um território atrasado, segundo um modelo evolucionário, mas em meio à estreita interdependência global das transformações sociais: a cidade e o campo na escala do mundo.
Segundo Marx, a Comuna foi um assalto ao céu. Com direito a saltos temporais e dobras espaciais.
PS: As pílulas vão sofrer um lapso temporal de algumas semanas.
Leia também: A Comuna de Paris como cápsula do tempo
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