Uma das preocupações do sociólogo Ricardo
Antunes são as dificuldades do atual movimento sindical para se mobilizar. Entre
os maiores obstáculos estaria a elevada automação do processo produtivo.
Fenômeno que ele costuma caracterizar com a seguinte frase: “As plantas fabris
agora são da ‘engenharia liofilizada’, que elimina substâncias vivas”.
A ideia corresponde ao conceito de trabalho
morto, criado por Marx. No primeiro volume de “O Capital”, o revolucionário
alemão dá este nome ao trabalho “cristalizado e acumulado nos meios de
produção”. Usando um exemplo bem atual, em cada caixa eletrônico instalado jaz o
trabalho de vários bancários.
Outra imagem que aparece na obra de Marx quanto
a esse processo é a seguinte: “O capital é trabalho morto, que apenas se
reanima, à maneira dos vampiros, chupando trabalho vivo e que vive tanto mais
quanto mais trabalho vivo chupa”.
Muitos autores marxistas gostam de usar
esta metáfora. É o caso de Chris Harman com seu “Zombie Capitalism”, de 2009.
Mas um deles levou-a tão a sério que escreveu um livro relacionando as várias
criaturas fantásticas da modernidade à vocação macabra do capitalismo.
Em “Monsters of the Market” (2011), David
McNally trata personagens como Frankenstein e os zumbis como analogias ao
desmembramento do corpo humano exigido pela sociedade dominada pelo mercado. Os
proprietários da força de trabalho são obrigados a vendê-la para sobreviver. Passam
por uma espécie de mutilação ou de divórcio entre carne e espírito.
As consequências reais dessa situação são
mais assustadoras que sua simbologia fictícia. Mas até Frankenstein tinha
salvação. Na obra de Mary Shelley, a infeliz criatura se humaniza ao aprender a
ler.
Leia também: Memórias
póstumas da CUT
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