Doses maiores

25 de abril de 2018

O fio da meada dos juros altos

"Precisamos falar sobre bancos”, diz Lauro Gonzalez, em artigo no Globo, de 24/04/2018. E, realmente, o que não falta é jornalista e especialista falando deles. Principalmente, sobre a persistência dos juros altos apesar da queda da taxa Selic, determinada pelo Banco Central.

Gonzalez e muitos outros comentaristas da grande imprensa apontam como causa principal do problema a concentração bancária. “No Brasil, diz ele, os cinco maiores bancos detêm quase 90% dos empréstimos”.

Seria ela que permite aos bancos cobrarem, por exemplo, juros nas operações de cartão de crédito de quase 400% anuais, contra um índice Selic de 6,5%. Ou seja, uma taxa 61 vezes maior!

Mas há outro fator. Recente levantamento do Centro de Estudos do Mercado de Capitais (Cemec), vinculado à Fipe-USP, mostrou que do total de recursos captados pelo sistema bancário 72% estão aplicados em títulos do Tesouro Nacional.

Ou seja, em papéis da imensa, imoral e ilegítima dívida pública, que tira, principalmente, dos serviços públicos, quase R$ 2 bilhões por dia. Aí, vender crédito, principal função dos bancos, virou mero detalhe.

Aparentemente, procuram culpar o crédito caro pela paralisia econômica do País. É verdade que os juros altos têm grande responsabilidade nisso. Mas foram os violentos cortes dos investimentos públicos adotados já por Dilma e aprofundados por Temer, que agravaram as consequências da crise mundial que chegou forte por aqui, por volta de 2014.

Somente a enorme concentração bancária nacional não explica o caos econômico atual. Há também a indecente dívida pública, a vergonhosa concentração de riqueza e, na origem da meada, o capitalismo asfixiando ainda mais uma sociedade já profundamente injusta.  

4 comentários:

  1. Sergio, como sabe, não sou afeito a números e economia. Mas, por um motivação teórica e outra prática, acabei me envolvendo. Estranhava essas taxas decrescentes de Selic de um governo que privilegia o sistema financeiro. OK, continua com taxas absurdamente altas de juros que privilegiam esse setor da economia. Aí comenta que os recursos bancários estão aplicados em títulos do Tesouro Nacional. Ou seja, quem tem recursos aplicados no Tesouro Nacional financia o empréstimo dos bancos a crédito? Grato e um abraço,

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  2. Um comentário mais ideológico, precisamos dele. A complexidade do capitalismo, assim como a sua reificação ou fetiche, fazem exatamente este papel: esconder a sua essência na aparência.

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  3. Marião, é ainda pior do que pensamos. Um "amigo" do face, professor de administração de esquerda, diz que nem uma desconcentração bancária resolveria porque disponibilizar o dinheiro que está preso na jogatina financeira quebraria a economia de um jeito ainda pior. Ou seja, o que ele está dizendo é que existe uma imensa massa de capital fictício que, liberada para a economia real, a arrasaria. Algumas operações diárias movimentam trilhões de reais (equivalente ao PIB brasileiro). Imagine só uma pequena parte disso chegando à economia normal, todos os dias. O quadro seria caótico. Enfim, ele acha que nem uma política de juros baixos daria jeito. É tipo o capitalismo cada vez mais se aproxima do caos. E, como você disse, não nos apercebemos disso exatamente por causa do fetichismo. Preocupante...

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