“Antes Que Tudo
Desapareça”, de Kiyoshi Kurosawa, é mais um filme sobre invasão alienígena. Mas
traz aspectos interessantes.
Os extraterrestres enviam
alguns emissários para conhecer nossa espécie antes da conquista. O problema é que
eles se comunicam e apreendem a realidade por meio de conceitos e não por
palavras. Estas últimas, diz um deles, costumam causar grande confusão.
Para entender nossas
visões de mundo, costumes, valores, os aliens “colhem” certos conceitos que
identificam como sendo importantes para nós.
Acontece que ao fazerem isso,
o conceito desaparece da mente daquele de quem foi colhido. Por exemplo, quando
uma jovem teve a noção de “família” capturada, passou a desconhecer seus
parentes.
Ou quando um rapaz ficou
sem a ideia do que seria “propriedade”, deixou de ser um pacato morador da casa
dos pais para fazer denúncias em praça pública.
O interessante, aqui,
seria imaginar a produção de Kurosawa como uma espécie de metáfora sobre alguns
aspectos importantes do estágio atual das relações humanas.
Conceitos não são fixos e
válidos para tudo e todos. Mas certamente costumam proporcionar uma compreensão
da realidade muito mais precisa do que meras palavras.
No entanto, são as palavras
que vêm imperando naquele que vem se tornando um meio de comunicação cada vez
mais onipresente: as redes virtuais.
São nelas,
principalmente, que termos como “fascista”, “comunista”, “esquerda”, “direita” deixaram
de ser conceitos para se transformar em noções rasas ou supostas ofensas.
O filme vale a pena, mas corre o risco de ficar
datado. Em breve, poderemos regredir a um estágio em que não sobrarão conceitos
para eventuais alienígenas colherem. Nos renderemos definitivamente aos
pré-conceitos.
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