Recentemente, o sociólogo
José de Souza Martins concedeu entrevista à IHU On-Line.
Vale a pena ler na íntegra, mas um trecho interessante destaca um relato do antropólogo
italiano Luigi Lombardi Satriani, filiado à tradição gramsciana. Trata-se de uma
“lenda” da região da Calábria que diz o seguinte:
Era
uma vez, uma enorme disputa entre o “falar” e o “comer”. O “falar” acusava o
“comer” de ser nojento. Afinal, o “olhar” têm duas casas, o “ouvir” tem duas
casas, mas o “falar” e o “comer” estavam enfiados numa mesma casa. O “falar”
queria que o “comer” fosse embora. Desocupasse a casa porque o “falar”, sim, é
nobre, mas o “comer” é repugnante. Nessa confusão, os dois resolveram falar com
o rei Salomão, cuja justiça todo mundo conhece: é na base da espada, corta no
meio e resolve. O “comer”, muito humilde, explicou que se as pessoas não
comerem, não vão poder falar e fez um enorme discurso. O “falar”, por outro
lado, depois de engolir um último bocado, disse que na vida da civilização comer
não é importante. Aí o rei Salomão pensou e fez justiça: deu a boca dos ricos
para o “falar”, porque o problema dos ricos não é comer, é falar. E deu a boca
dos pobres para o “comer”, porque o problema dos pobres não é falar, é comer.
Para Martins, esse
relato expressaria “uma consciência precisa das diferenças sociais”. E é essa precisão,
diríamos, que pode transformar seu tom conformista em ponto de partida para a
superação dessas falsas polaridades impostas a partir de cima. Afinal, a gente não
quer só comida...
O "comer" já deu a dica da solução. Exatamente por aí...
ResponderExcluirBeijo!