No artigo “Golpe sangrento fugiria à nossa tradição”, publicado hoje no Globo, Pedro Doria relaciona sete golpes militares bem-sucedidos na história brasileira. “Em cada um desses momentos, diz ele, ao menos um general decidiu rasgar a Constituição”. Mas em nenhum deles foi derramado o sangue dos governantes depostos, ressalva Doria. E isso indicaria que “nossas ditaduras estavam num degrau mais ameno da barbárie vizinha”.
Por isso, argumenta o colunista, “dar golpes militares é coisa brasileira, sim”. Mas, referindo-se ao que foi planejado pelos bolsonaristas, prevendo uma série de assassinatos, não seria “um golpe brasileiro”.
Doria até admite que “a violência dos porões não foi pouca”, mas posicionar as barbáries das ditaduras de nossa história num nível “mais ameno” é um absurdo. Um desrespeito às milhares de vítimas torturadas, executadas e desaparecidas que não contavam com a integridade física garantida somente aos setores dirigentes.
Um golpe de estado sempre opõe parcelas da classe dominante a outras. Nesse caso, podem ocorrer prisões, exílio, processos jurídicos viciados, arbitrariedades. Mas são os de baixo que sofrem a mais extrema violência física. No regime militar, por exemplo, morreram mais de 8 mil, somente entre os indígenas.
Que as elites nacionais nunca tenham se confrontado até o derramamento de sangue não é um traço pitoresco de sua dominação. É uma evidência dos bons modos com que se relacionam, reservando a selvageria mais cruel aos de baixo.
A truculência bolsonarista não é uma excrescência irracional. É uma atitude correspondente ao ódio e repulsa das classes dominantes a qualquer possibilidade de que os explorados e oprimidos passem a confiar em suas próprias forças.
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A Revolução Francesa é um exemplo do que uma população unida pode fazer: a bastilha caiu e os monarcas foram guilhotinados. Isso assombrou todas as monarquias europeias.
ResponderExcluirMas voltemos ao Brasil, concordo que as "revoluções" daqui, pouparam o sangue dos governantes. Prova disso, é o que fizeram com D Pedro II - teve o direito de ter o navio que o levou à França, escoltado. Isso mesmo, direito a uma escolta.
Ponderemos: mostre-me uma civilização ou governantes que não tenham maltratado a plebe?
VIRTUS IN MEDIO EST
Pergunta provocativa: No Brasil, o não derramamento de sangue dos governantes depostos, se deu pelo fato de muitos deles serem da maçonaria?
E aí, existe ou existiu alguma civilização em que os governantes não tenham maltratado a plebe?
ResponderExcluirE quanto a outra pergunta, relativa à maçonaria?
Sergio, eu acho que dei um pouquinho de contribuição. Fico no aguardo de respostas.
Abs
Não conheço muito sobre a maçonaria. E do pouco que conheço. parece ter muita coisa fantasiosa. Pode ser que o domínio de classe da monarquia e início da República tenha passado pelas lojas maçônicas, mas sua essência são os interesses de classe, que permaneceram e se fortaleceram por meio delas e diversos outros aparelhos de hegemonia. Abraço
ExcluirAh, sobre a primeira pergunta, acho que em qualquer sociedade que conhecemos que mereça o nome de civilização nunca houve governantes cordiais.
ExcluirOk. Obrigado. Sempre aprendo com vc.
ResponderExcluirPosso sugerir a vc, um tema para o blog?
- Os generais do Brasil: Forças Armadas, "cabide" de emprego.
Ou se vc preferi, alguma outra coisa, abordando o mesmo assunto.
Por que o Brasil precisa de tantos generais? Um bando de sanguessugas. Inclusive, na reforma do governo passado, eles se beneficiaram muito mais que a plebe(praças). A diferença salarial entre a plebe e os sanguessugas é monstruosa!
Estamos vendo a questão do corte de gastos. Pq os pensantes do PT, não põe na mesa uma cota reduzida de generais para promoção?
Não conheço bem a estrutura das Forças Armadas dos Estados Unidos, mas acho q lá, eles têm menos generais que o Brasil. Sendo que os Estados Unidos vivem em guerra. Aqui não precisa de tantos sanguessugas no Exército. Afinal, vivemos em paz há muito tempo.
Abs
É uma merda, mesmo. Também não entendo nada sobre como são essas coisas de luxo e privilégios da caserna. Mas se não conseguimos nem punir criminosos declarados, que batem no peito admitindo assassinato e torturas, imagina vetar promoções de generais...
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