A decisão de Angelina Jolie
de retirar as mamas merece todo o respeito. Mas é preciso lembrar o enorme peso
das decisões tomadas por uma estrela mundial.
A grande imprensa tratou o
caso com pouco rigor e muito sentimentalismo. Felizmente, há quem aborde a
situação com mais lucidez. É o que fez Bernardo Pilotto, por exemplo. Ele
publicou o artigo “Angelina Jolie e o preventivismo liberal” em sua página na
internete. O texto lembra a tradicional polarização no debate sobre a saúde pública,
entre prevenção e cura.
Do ponto de vista dos
interesses da grande maioria da população, privilegiar a medicina preventiva
traz resultados sociais muito mais relevantes. Já a prática curativa costuma
fazer a alegria das grandes empresas de medicina privada e medicamentos.
O problema é que atitudes
como a de Angelina tendem a valorizar uma prevenção paranoica e individualista,
saudável apenas para o mercado bilionário da saúde privada. Mas pode ser ainda
mais grave.
Em entrevista à revista da
Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, o médico e pesquisador Luís
Castiel levantou sérias suspeitas. Segundo ele, há denúncias de que os testes
aos quais Angelina foi submetida estão para ser patenteados pela empresa Myriad
Genetics.
O anúncio da atriz provocou a
rápida valorização das ações da empresa. Além disso, pode ter levado a opinião
pública a influenciar a Suprema Corte americana a decidir em favor do direito
de propriedade dos genes humanos pelas grandes corporações.
As chances de Angelina
desenvolver câncer eram altas. Mas a probabilidade de que muito mais do que sua
saúde esteja em jogo também é elevada.
Leia também: Fazer
viver, deixar morrer
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