Em 18/01/2018, Contardo
Calligaris publicou “Estupros, assédios, investidas e paqueras” na Folha. O artigo
procura intervir na recente polêmica envolvendo feministas estadunidenses
e francesas.
Mas o que interessa
aqui é o que diz sobre os estupradores:
...o
verdadeiro estuprador não age por excesso de desejo ou por frustração (“a quero
tanto que não me aguento”).
Estuprador
propriamente é quem não está atrás de sexo ou atrás daquela mulher que deseja.
O estuprador gosta da própria violência que ele exerce sobre sua vítima.
Apesar disso:
...poucos
homens são estupradores no sentido que gozam de sua própria violência. Mas
muitos podem estuprar por idiotice –porque acham que a mulher vai gostar.
E arremata:
...se
você acha que essa história toda é picuinha, reconsidere. O patriarcado, a
falta de paridade, a idiotice das investidas e a brutalidade dos estupros são
apenas sintomas: a doença é que nossa cultura, há 3.000 anos (desde as
histórias de Eva e de Pandora), é fundada no ódio à mulher, como encarnação do
mal e voz tentadora do demônio.
Faltou dizer que uma das mais
influentes tradições religiosas do mundo nasceu de uma gravidez não consentida.
Que se tenha consumado pelo sussurro de um anjo na orelha de uma mulher não altera
seu caráter impositivo. E tudo isso para parir um filho a ser sacrificado por vontade
do pai, causando os piores sofrimentos que pode suportar o coração de uma mãe.
A figura comovente da Virgem tenta redimir os "pecados" de mulheres como Eva, Raquel, Betsabá, Dalila. Mas a simbologia em torno dela pode preparar um caminho que vai da veneração à violação.
Leia também:
Estupro não envolve desejo. É ódio
às mulheres
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