“Fahrenheit 451” é um famoso livro de Ray Bradbury sobre um mundo distópico, em que todos os livros são queimados. Para salvá-los, heroicos voluntários passam a decorar o conteúdo integral de exemplares que escaparam da fogueira.
Em seu livro “O Infinito num Junco”, Irene Vallejo afirma que algo parecido aconteceu na China. Foi no século 3, quando o imperador Qin Shi Huang ordenou que fossem queimados todos os livros. Ele queria que a história começasse com seu reinado e pretendia abolir tudo o que veio antes dele.
Felizmente, décadas depois, já sob uma nova dinastia, foi possível reescrever muitos daquelas obras perdidas. Correndo riscos inacreditáveis, escribas tinham conservado na memória livros inteiros, em segredo, ao abrigo da guerra, das perseguições e das fogueiras.
No século 20, durante o período stalinista, afirma nossa autora, amigos de Anna Akhmátova memorizaram poemas do seu livro “Réquiem”, à medida que era escrito, para preservá-lo caso algo acontecesse a sua autora.
A escrita e a memória não são adversárias, diz Irene. Na verdade, ao longo da história, salvaram-se uma à outra: as letras resguardam o passado; a memória, os livros perseguidos.
Por outro lado, explica ela, a escrita permitiu criar uma linguagem complexa que os leitores podem assimilar e sobre a qual meditam com mais tranquilidade. Além disso, desenvolver um espírito crítico é mais simples para quem tem um livro na mão, podendo interromper a leitura, reler e parar para pensar.
Com essas belas reflexões de Irene Vallejo, as pílulas entram em breves férias, esperando que continuemos na resistência contra a amnésia e as fogueiras.
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Gostei dessa frase: "as letras resguardam o passado; a memória, os livros perseguidos." Não estou ainda na parte do livro em que comenta sobre o imperador chinês, entrou como spoiler. Não tem problema, só ligo quando se trata do final de alguma obra em que toda ela encerra um mistério para ser revelado no final. Quando comecei a ler o livro me veio direto o filme (não li o livro) “Fahrenheit 451”. Estou lendo e gostando bastante do livro que comenta, assim como amei o filme do Truffaut.
ResponderExcluirSim. Um belo livro. Spoiler é uma bobagem. Só existe em casos de tramas policiais ou de suspense. Fora isso, o que importa não é o que se conta ou mostra, mas o como se faz isso. Abraço
ExcluirEssa pílula é para todo dia!
ResponderExcluirÉ, sim! Beijo
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