O filme “O Corte”, de 2005, poderia servir como uma espécie de metáfora dos tempos neoliberais.
Trata-se de uma obra do cineasta grego Costa-Gavras. Tem como protagonista Bruno Davert, que se vê demitido após 15 anos trabalhando como engenheiro de produção. Provavelmente, foi descartado graças às técnicas que ele mesmo ajudou a implantar visando eliminar custos com força de trabalho para seus patrões.
No início das férias forçadas, Davert acredita que logo encontrará seu lugar no mercado de trabalho. Mas após dois anos de desemprego, começa a entrar em depressão e a ter problemas com a família. Resolve reagir. Ao disputar pela enésima vez uma vaga em sua especialidade, elabora um plano mirabolante. Abre uma empresa de fachada para recrutamento de profissionais para o posto que ele pretende ocupar. Desse modo, atrai seus concorrentes e os submete a uma avaliação técnica. Em seguida, começa a matar aqueles que apresentavam qualificação suficiente para desbancá-lo na competição.
Apesar do caráter macabro dos métodos do protagonista, a produção é uma comédia irônica. Afinal, se o neoliberalismo ensina que a concorrência selvagem é um dado natural da sociedade, por que os indivíduos não deveriam lançar mão de todos os meios possíveis para alcançar seus objetivos?
Não cabe revelar o desfecho do filme, não porque isso teria um efeito estraga-prazer. Mas porque não há spoiler possível quando o final é óbvio. Desde bem antes de 2005, passando pela crise iniciada em 2008, já sabemos muito bem como tudo isso vai acabar se continuar prevalecendo a racionalidade capitalista em sua fase neoliberal.
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Diria que é bem realista.
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