“Neonomicon” é a mais recente história em quadrinhos de Alan Moore. Estamos
falando do genial responsável por Do Inferno, Watchmen, V de Vingança e Liga
Extraordinária, entre outras maravilhas. O roteirista inglês juntou-se ao
desenhista Jacen Burrows para criar uma história inspirada na obra de H.P.
Lovecraft.
O mais interessante da trama é uma droga chamada Aklo. Na verdade, não é uma
substância. Ela não tem existência material. Seu efeito alucinógeno é produto
das palavras de uma língua desconhecida. Ao serem sussurradas no ouvido do
usuário, provocam efeitos entorpecentes.
A ideia não é tão absurda assim. Por exemplo, imagine uma sociedade em que as
obras de poesia tenham desaparecido das livrarias. A literatura se limitaria a especialidades
técnicas e conformismo terapêutico. Num mundo assim as sensibilidades estéticas
estariam condenadas à atrofia.
No entanto, poemas continuariam a ser produzidos em porões e garagens. E à medida
que saíssem do subsolo e chegassem a ouvidos desacostumados causariam os mais
loucos delírios. Alguns versos bastariam
para provocar sonhos alucinantes.
Os donos do poder certamente temeriam os efeitos de algo assim. Os responsáveis
por sua produção seriam perseguidos como sintetizadores de uma droga poderosa. Traficantes de palavras mágicas.
Uma sociedade que inviabiliza o fazer poético seria muito triste. Infelizmente,
não é algo tão improvável. Mas restaria a esperança de que sua produção clandestina
se desenvolvesse o suficiente para se tornar um poderoso entorpecente
subversivo. Algo que poderia colocar tudo de pernas para o ar.
Se isso não acontecesse estaria provado. A humanidade já não valeria a pena.
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