Uma das atrações mais celebradas das
Olimpíadas do Rio de Janeiro é o Museu do Amanhã, no porto da Praça Mauá. Mas o
nome da instituição parece trair a intenção de apagar um passado bem inconveniente.
A começar pelas “maravilhas” olímpicas,
que procuram apagar da região portuária os traços deixados pelo desembarque de milhões
de escravos ao longo de séculos.
Mas há outros pontos cegos dessa
memória histórica de dor e resistência espalhados pela cidade carioca.
Em Jacarepaguá, por exemplo, apartamentos
destinados aos jornalistas durante os Jogos foram construídos sobre um
cemitério de escravos. No mesmo local, o Quilombo do Camorim teve parte de suas
instalações comunitárias demolidas pelas obras.
O Riocentro sedia modalidades como
levantamento de peso, tênis de mesa, boxe e vôlei. Foi lá que, em 1981, durante
um show do 1º de Maio, militares do Exército tentaram explodir uma bomba para causar
ferimentos e mortes entre os cerca de 20 mil presentes.
No Complexo Esportivo de Deodoro ficam
um estádio e um centro aquático. Mas nos anos 1970, suas dependências foram
usadas para torturar e matar militantes de esquerda. Entre eles, Chael Charles
Schreier e Severino Viana Colou.
Também de triste memória é o
Aeroporto do Galeão. Porta de entrada para as Olimpíadas, em suas instalações Stuart
Angel foi torturado até a morte por membros da Aeronáutica.
Nenhum desses lugares presta qualquer
homenagem a esses heroicos sacrifícios por liberdade e justiça social.
Nada mais coerente, portanto, que governos
e mídia celebrem um museu que pretende olhar para o futuro, enquanto seus idealizadores tentam
apagar um passado tão vergonhoso quanto violento.
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