No relato abaixo de seu livro “M, O Filho do Século”, Antonio Scurati descreve o início da reação fascista na Itália dos anos 1920.
Começa em Bolonha. Em dezembro de 1920, Adelmo Niccolai, deputado socialista, é espancado por fascistas em plena rua. Sua mãe o acompanhava. Também foi atacada.
Em Ferrara, os socialistas convocam uma paralisação para 20 de dezembro, com ato público contra a agressão. No mesmo local, dia e hora, os fascistas também convocam uma manifestação.
Não está claro quem abriu fogo primeiro, mas três fascistas morreram.
Nas eleições de novembro de 1920, em Ferrara, os contrarrevolucionários fizeram menos de 7 mil votos. No entanto, um mês depois, na mesma província, 14 mil pessoas participaram do funeral daqueles três fascistas. As relações de forças estavam se invertendo.
Após os sangrentos eventos de Bolonha e Ferrara, de outubro a dezembro, as filiações fascistas passaram de 1.065 para 10.860. Na Itália, já são 20 mil membros.
Cada vez que um bando fascista queima uma bandeira vermelha numa praça, centenas de pequeno-burgueses se alinham à contrarrevolução. É uma avalanche. O fascismo se espalha como infecção.
“É o pânico, esse maravilhoso parteiro da história!”, diz Mussolini. É o ódio no lugar do medo. Os novos fascistas são todas as pessoas que até ontem tremiam diante da revolução socialista. Pessoas que viviam com medo, comiam medo, bebiam medo, iam para a cama com medo.
Desses odiadores pequeno-burgueses seria formado o exército fascista.
O relato nos desafia a tentar entender em que momento violência e ódio deixam de ser combustível revolucionário para tornar-se poderoso motor da reação fascista.
Continua…
Leia também: Itália, 1920: lentilhas no lugar da revolução
Nenhum comentário:
Postar um comentário