Os maiores ameaçados são os que vivem as mazelas de um sistema que promete prosperidade a todos, mas só a faz chegar a muito poucos. A este propósito, vale ler recente entrevista de Marina Garcés, professora da Universidade Aberta da Catalunha. Um trecho:
Nós, humanos, nos adaptamos a tudo quando temos medo, e vivemos coisas muito piores. Guerras, perseguições, fechamentos massivos. Há setores da população mundial que sofrem assim todos os dias, nos campos de refugiados, países em guerra, guetos, coletivos encarcerados... e a história também nos oferece exemplos constantes. A sociabilidade confinada não é nenhuma novidade. Sua dimensão global e generalizada e o fato de que afete aqueles que normalmente têm mais direitos e acesso à mobilidade, sim.Para a filósofa, dessa situação podem surgir “duas coisas: redes de apoio mútuo e policiais de sacada. Moradores que ajudam e vizinhos que se delatam. As atuais condições de vida tiram o melhor e o pior que podemos chegar a ser”.
Segundo ela, caso “vença o medo e a suspeita entre vizinhos, daremos um passo a mais para uma sociedade autoritária”. Apesar disso, Marina acha que não devemos nos render aos relatos apocalípticos. Afinal, diz, “o valor da vida é lutar todos os dias, e são as pessoas anônimas mais castigadas que nunca deixam de fazer isso”.
É verdade, mas o policial de sacada está à espreita.
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