Antonio Scurati lançou "M, o filho do século" antes da atual crise pandêmica. Mas neste primeiro volume da biografia política de Mussolini, ele relaciona o fenômeno fascista a um vírus.
Referindo-se às classes médias que aderiram à liderança de Mussolini nos anos 1920, ele diz que grande parte dessas camadas era formada por pessoas que “viviam com medo, comiam medo, bebiam medo, iam para a cama com medo”.
Um medo que, por sua vez, alimentava um ódio tremendo às aspirações das camadas mais populares. Teria sido essa mistura de temor e ira que levou milhões de pessoas a integrar as fileiras fascistas.
Seriam pessoas infectadas por um vírus que despertaria nelas “um desejo incontrolável de submissão a um homem forte e, ao mesmo tempo, de domínio violento sobre os indefesos”.
Por isso, diz ele, “o fascismo, talvez, não seja o hospedeiro desse vírus que se espalha, mas o seu hóspede”. Ou seja, o fascismo não cria a barbárie social, somente nutre-se dela e a reproduz em escala exponencial.
O fascismo não seria a doença, mas o vetor melhor adaptado a uma estrutura social patológica que cria imensos e numerosos viveiros de criaturas cuja dieta é formada por ressentimento, desespero e raiva.
Da mesma forma, podemos dizer que o coronavírus não é nosso maior problema hoje. Ele é apenas um gatilho dentre tantos outros que ainda podem ser acionados a qualquer momento.
A pandemia jogou luz sobre os muitos cantos escuros de nossa sociedade, onde se emboscavam monstros à espera de uma oportunidade para agir em pleno dia. Que, ao menos, nos sirva para exterminá-los.
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