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18 de agosto de 2022

Os intermináveis labirintos do fascismo

“Labirintos do Fascismo” é “um livro interminável”, diz seu autor, João Bernardo. Mas não porque tenha mais de 1.450 páginas. O caráter inconclusivo da obra, diz ele, deve-se ao fato de que o fascismo “foi destruído militarmente sem estar política e ideologicamente esgotado”.

Ele é um marxista português e militante antifascista de primeira hora. Afirma, porém, que não pretende abordar o fascismo a partir de fora, “mas desde o seu interior, nas encruzilhadas sociais e políticas em que se gerou e nos percursos paradoxais, quando não delirantes, em que prosseguiu a sua ideologia”.

Uma das teses centrais do livro é apresentada já na introdução. Para ele, os fascistas jamais conseguiram “ascender em confronto direto com as movimentações revolucionárias dos trabalhadores, mas somente após essas movimentações terem sido desarticuladas pelas suas contradições internas”.

Bernardo lembra Clara Zetkin que, ao discursar no Congresso da Internacional Comunista, em junho de 1923, advertiu:

O fascismo não é de modo nenhum a vingança da burguesia contra um proletariado que se tivesse insurreccionado de maneira combativa. Sob um ponto de vista histórico e objetivo, o fascismo ocorre sobretudo porque o proletariado não foi capaz de prosseguir a sua revolução.

Referindo-se à ascensão do nazismo nos anos 1930, o autor diz que o triunfo do fascismo só é compreensível se recordarmos que nessa ocasião as formas sociais inovadoras criadas pelo movimento operário haviam sido derrotadas e tinham degenerado.

Ou seja, as vitórias do fascismo teriam sido produto das derrotas do proletariado revolucionário para si mesmo.

Aos poucos, e na medida do possível, voltaremos a essa obra cheia de elementos importantes e provocativos.

Leia também: A ecologia dos nazistas

4 comentários:

  1. Sei não, viu. Acho que o fascismo não é resultado de uma insuficiência do proletariado em fazer a sua revolução. Ele existe e existirá em todos os momentos da história, não sei até quando, mas penso que até mesmo depois de uma vitória revolucionária com todos os componentes mais avançados que possamos imaginar. É uma linha paralela de tudo que foi criado até então de conservadorismo, moralismo, obscurantismo e todos os "ismos" reacionários.

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    1. Foi bom você ter comentado isso. O estudo do João Bernardo está cheio de dados e informações mostrando que o fascismo cresceu sempre onde e quando o proletariado foi incapaz de avançar. Mas não se é uma condição necessária, não é suficiente. A situação social também precisa chegar a um ponto insustentável também do ponto de vista do capital. Ou seja da sustentação das taxas de lucro da burguesia. E isso aconteceu em certas sociedade e em outras não. Por exemplo, nos EUA e na Grã-Bretanha, Bernardo disse que o fascismo nunca conseguiu tomar o poder. Mas isso vai estar numa próxima pílula.

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    2. Sim, mas o que quis dizer é que foi contido ou abafado em dados momentos históricos, onde a luta de classes se apresentou mais favorável ao proletariado por uma série de fatores, mas exterminar é muito difícil. Isso que humanamente me deixa triste.

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    3. O fascismo é um fenômeno histórico. E como todo fenômeno histórico, vai acabar um dia, assim como vai acabar o capitalismo (mesmo que não dê lugar ao socialismo, por exemplo). Mas acho que é um fenômeno diretamente ligado ao capitalismo. Quando este acabar, ele também acaba. Pode ser que genocídios, culto à guerra, racismo, etc, continuem, mas acho que já não seria fascismo. Tão ruim quanto, mas seria outra coisa. Talvez, a barbárie, da qual o fascismo seria uma antecipação dentro de uma sociedade que se pretende "civilizada".

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