Em um comercial dos anos 80, um homem se assusta ao se deparar com sua própria imagem num bar. “Eu sou você amanhã”, diz a réplica. “Para evitar ressaca amanhã. Exija vodca Orloff, hoje”, recomenda.
Foi assim que surgiu a expressão “efeito Orloff”, sinônimo de coisas ruins que poderiam acontecer em breve. Muita gente, por exemplo, achava que a crise econômica argentina se repetiria aqui e nossos vizinhos diriam: “Eu sou você amanhã”.
A eleição de Javier Milei poderia servir de pretexto para usarmos aquela expressão de modo inverso: “Nós somos vocês, ontem”.
Mas os argentinos também têm um slogan que lembra um ontem que os levou à ressaca de hoje. Trata-se de “Que se vayan todos!”, palavra-de-ordem surgida nas grandes manifestações ocorridas no começo do século em grandes cidades argentinas. Era o grito de guerra do movimento piqueteiro, que, naquele momento, se insurgia contra uma grave situação de desemprego, recessão, pobreza, salários baixos, causada pelo governo neoliberal de Carlos Menem.
O lema pode ser traduzido como “Fora todos!”, referindo-se aos políticos em geral, incluindo, os peronistas. Afinal, Menem era um deles.
O movimento colocou para fora dois presidentes antes de os governos Krischner se estabilizarem no poder. Vinte anos depois, porém, a extrema-direita se apropriou do sentimento de revolta contra o sistema para eleger um inimigo das causas populares.
É o sistema de dominação utilizando válvulas de escape para se manter funcionando. Quando governos moderados de esquerda frustram, o fascismo e assemelhados são acionados.
Lá em cima, eles continuam bebendo do bom e do melhor. Cá embaixo, ficamos com a pior das ressacas, sem beber.
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