Em seu livro “Breaking Things at Work”, Gavin Mueler cita o crítico de tecnologia Jathan Sadowski para falar sobre inteligência artificial (IA). Segundo ele, muito do que é alardeado como um sistema de máquinas autônomas é na verdade “IA Potemkin”, referindo-se às brutais condições de trabalho dos marinheiros do famoso encouraçado russo.
Afinal, diz Mueller, “serviços que pretendem ser alimentados por software sofisticado, na verdade dependem de pessoas agindo como robôs”. Desde programas de transcrição de áudio que disfarçam os trabalhadores humanos como “software de reconhecimento de fala” até carros “autônomos” controlados remotamente, as façanhas da “inteligência artificial avançada” não apenas mascaram relações trabalhistas como reforçam a percepção de que um dia não seremos mais necessários.
A Samasource, especializada em treinamento de IA, utiliza o trabalho de moradores de favelas do mundo todo como solução barata para as tarefas chatas, repetitivas e intermináveis de alimentar sistemas de aprendizado de máquina. O trabalho mal pago, costuma ser justificado pelo humanitarismo típico do Vale do Silício. Remunerações maiores poderiam inflacionar os custos de habitação e alimentação nas comunidades envolvidas.
Embora a inteligência artificial seja frequentemente comparada à magia, falha regularmente em tarefas simples para pessoas, como reconhecer sinais de trânsito, fundamental para automóveis autônomos. Mas mesmo casos bem-sucedidos de IA exigem enormes quantidades de trabalho humano. Incluindo o dos usuários.
Sempre que você resolve um daqueles quebra-cabeças de identificação por imagem para provar que não é um robô, está ajudando a treinar IA. Seus idealizadores dizem que apenas aproveitam nossos momentos improdutivos. Improdutivos para quem?
Eles acham que somos burros. Temos que parar de dar-lhes razão.
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