No centenário da morte de Lênin, voltamos ao artigo “Lenin’s Pravda”, de Tony Cliff, sobre o jornalismo revolucionário defendido pelo líder russo. Nele ficamos sabendo que o Pravda, principal jornal do partido bolchevique, mudou de nome oito vezes. As constantes alterações aconteciam devido à forte perseguição que o periódico sofria da ditadura czarista.
Frequentemente, as instalações do jornal eram invadidas, edições confiscadas, multas impostas, editores presos, jornaleiros assediados. Mesmo assim, foram publicados 645 números de 1912 a 1914, quando deu lugar a outros jornais até retornar após a revolução de 1917. Isto foi possível em grande parte devido à engenhosidade da equipe editorial para contornar as perseguições, ao apoio financeiro dos leitores, a lacunas na lei de imprensa e à ineficiência da polícia.
Uma linguagem codificada procurava evitar o confisco imediato das edições. No lugar do nome do partido, “subterrâneo”, “buraco” ou “velho”. O programa bolchevique, que defendia a república democrática, confisco das propriedades fundiárias e jornada máxima de 8 horas era chamado de “exigências de 1905” ou os “três pilares”. Um bolchevique era um “democrata consistente” ou um “marxista consistente”. Os trabalhadores mais militantes conseguiam decifrar essa linguagem sem maiores problemas.
Essas e outras dificuldades para fazer circular um periódico revolucionário em plena ditadura autocrática na Rússia do início do século passado deveriam servir de exemplo. As dificuldades e obstáculos atuais são bem diferentes e igualmente enormes, mas Lênin defendia que o trabalho revolucionário era resultado de intervenções concretas adaptadas às situações concretas, sejam elas quais fossem. Hoje, como na época de Lênin, não adianta tentar combinar com os russos.
Voltaremos ao tema.
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