Sérgio é um personagem do livro “Fé e Fuzil”, de Bruno Paes Manso. Membro da instituição evangélica Cristolândia, ele e outros “missionários” percorriam a Cracolândia paulistana tentando convencer os usuários de drogas a mudar de vida. Chegavam tocando samba (que chamavam de “pragod”), oravam para expulsar demônios e distribuíam sopas e cobertores.
Ainda menino, Sérgio foi abusado por um homem de sua família. Adulto, tornou-se travesti e foi para a Europa, onde caiu vítima de uma gangue de tráfico humano. De volta ao Brasil, acabou na Cracolândia, mas foi “resgatado” pelos religiosos da Cristolândia.
Sérgio não condenava moralmente os transexuais ou travestis. Sua missão na Cracolândia era trabalhar com elas, não para que mudassem suas identidades ou orientações, mas para que deixassem as drogas e as ruas. Quando os transexuais e travestis aceitavam dormir no abrigo da instituição, recebiam calcinhas e roupas femininas, não cuecas, camisetas e bermudas. Sérgio defendia que o trabalho de doutrinação religiosa só seria efetivo se essas pessoas fossem respeitadas e aceitas como tais.
Depois de se converter ao cristianismo, Sérgio fez várias cirurgias para retirada de silicone e frequentou um curso de teatro para “recuperar o que entendia como comportamento masculino”. Na época que Manso o conheceu, estava prestes a se casar com uma missionária de Curitiba.
Se Sérgio livrou-se do inferno das drogas e das ruas, sua conversão pode representar o ingresso em nova etapa de sofrimento, ao ceder à repressão religiosa e violentar sua sexualidade. Mas, mesmo equivocada em seus fins, a abordagem emocional e afetiva que adotou em seu trabalho deveria servir de exemplo à militância de esquerda.
Leia também: Fé e Fuzil: a Bíblia como manual de instrução
Poxa vida, caso muito interessante, bela Pílula de informação e orientação.
ResponderExcluirValeu
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