“O Bem Amado” é a cara de Guel Arraes. Ritmo perfeito e atores em ótima forma. Mas, lançado em plena campanha eleitoral, o filme pode ser objeto de interpretações paranóicas.
Governistas podem achar que Odorico e seu populismo demagógico representariam Lula. Já, os oposicionistas seriam representados pelo jornalista Vladimir. O personagem usa meios oportunistas e desonestos para se opor a Odorico.
O filme dá pouco espaço a esse tipo de interpretação. Sua pretensão parece ser a de servir como uma advertência contra corrupção política em geral.
Mas uma super-produção da Globo não chega ao grande público sem fortes intenções ideológicas. A maior delas é a banalização da política. A indiferença em relação à corrupção e negociatas de interesses. O sentimento de que todos são iguais em sua baixeza e desonestidade.
Algo que se reforça ainda mais num quadro em que as principais candidaturas mal conseguem explicar o que as diferencia. As eleições tornam-se uma dança das cadeiras. Um leilão para ver quem oferece o melhor lance pela estabilidade do sistema de dominação e exploração. Sendo assim, melhor deixar a política para os políticos.
Uma situação dessas é a mais confortável para os poderosos. É a política institucional como comédia, com resultados trágicos para os explorados. A estes caberia responder com sua própria política. Aquela construída em suas associações, sindicatos, partidos. Produto das lutas, manifestações, greves. Mas, estes instrumentos foram esvaziados pela “esquerda” que ocupa o poder temporariamente.
Nestas eleições, a burguesia está de camarote, segurando a carapuça de Odorico. São muitos os que se estapeiam para vesti-la.
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