Dia de Finados. Lembramos a triste partida de José Saramago. Uma boa homenagem é citar uma de suas obras. Em “Intermitências da Morte”, o autor imagina uma situação em que a morte cessa. Ninguém mais finda seus dias. São muitas as conseqüências. A vida social é atingida por todos os lados.
“As religiões, todas elas, por mais voltas que lhes dermos, não têm outra justificação para existir que não seja a morte...”, diz. A filosofia também “precisa tanto da morte como as religiões, se filosofamos é por saber que morreremos”.
Mas “as primeiras e formais reclamações vieram das empresas do negócio funerário”. Ramo que ficou sem sua principal “matéria-prima”. Logo depois, vieram os alertas da federação das companhias seguradoras. Igualmente privadas do insumo fundamental para sua atividade econômica.
Mais uma vez genialidade de Saramago deixa nua toda a crueldade e o vazio de nossa sociedade. Momento e lugar em que a vida pode ser ameaçada pela ausência da morte.
A realidade mal consegue contradizer a bela ficção de Saramago. Mas, não se trata da morte ausente. É seu atraso que incomoda. Em vários países, mais gente está morrendo mais tarde. Os neoliberais gritam. Dizem que o falecimento tardio está comprometendo a Previdência Social. Viver tornou-se um problema para o orçamento!
Que fazer com esses velhos cuja vida sobra depois de acabada sua utilidade econômica? Isso é o que incomoda Sarkozy, na França. E tantos outros governos empenhados em reformas de aposentadorias e pensões. Certamente, cuidam para que nossa morte seja leve e rápida, tornando mais pesada e longa nossa vida de explorados.
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