Em 22/10, o professor de
Filosofia Vladimir Safatle publicou artigo na Folha com o título “Violência e
silêncio”. Em um trecho, ele diz que a política brasileira tem se transformado
“na arte do silêncio”. Ou seja:
Arte de passar em silêncio
sobre democracia direta, como pagar dignamente professores, como implementar
uma consciência ecológica radical, como quebrar a oligopolização da economia,
como taxar mais os ricos e dar mais serviços aos pobres. Mas também a arte de
tentar silenciar descontentes.
É como diz a música do Rappa,
“Paz sem voz, não é paz. É medo”. E esta tem sido a lógica que impera na
pacificação que as UPPs levaram às favelas cariocas, por exemplo.
Felizmente, os desafios a
esta ditadura do mutismo costumam ser bem barulhentos. É o que provam as
manifestações que não param de acontecer desde junho. Mas outros povos também
passam e passaram por isso. É o caso dos negros estadunidenses.
O levante negro por direitos
civis marcou a década de 1960 nos Estados Unidos. Manifestações violentas se
multiplicaram. Vitrines destruídas, automóveis queimados, policiais atacados. Martin
Luther King foi a principal liderança do movimento. Era pacifista, mas dizia que
a violência dos motins era a “voz dos que não são ouvidos”.
O fato é que a surdez do
poder político tem sido regra na história do capitalismo. Ao contrário do que parece,
até um direito calado como o voto universal levou muitas décadas para ser
aceito pela burguesia. E as recentes imagens de parlamentos europeus aprovando
leis antipopulares cercados por multidões furiosas provam que nada mudou demasiado.
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