O historiador Sérgio Buarque
de Holanda, em seu livro “Raízes do Brasil”, criou o conceito de “homem
cordial”. No capítulo do livro que leva esse título, ele diz:
Já se disse, numa expressão
feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade –
daremos ao mundo o “homem cordial”. A lhaneza no trato, a hospitalidade, a
generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam,
representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro...
Diante da polêmica que cercou
essa definição, o autor esclareceu em nota na 2ª edição:
...essa cordialidade
estranha, por um lado, a todo formalismo e convencionalismo social, não
abrange, por outro, apenas e obrigatoriamente, sentimentos positivos e de
concórdia. A inimizade bem pode ser tão cordial como a amizade, nisto que uma e
outra nascem do coração, procedem, assim, da esfera do íntimo, do familiar, do
privado.
A palavra cordial tem raiz em
coração e afeto. Afeto não remete apenas a carinho ou ternura. Também pode ser
usado para emoções como ódio e raiva. E o coração pode se transformar na “caixa
de ódio” da canção de Lupicínio Rodrigues.
Talvez, seja uma boa metáfora
para o que vem acontecendo no Brasil há séculos. Muito carinho, afeto ou apenas bons modos entre os que ocupam o andar de cima. Muita porrada e humilhação dispensadas
aos ocupantes do rés do chão e abaixo dele.
Todos os “grandes episódios” de
nossa história são marcados por essa cordialidade tão brasileira. Fenômeno que ganhou
nova visibilidade desde que começaram as manifestações em junho passado. E a
caixa de ódio pulsa cada vez mais forte.
Leia também: O Yellow
Bloc
Nenhum comentário:
Postar um comentário