Essa peça poética costumava ser utilizada por setores de esquerda que se opunham a conciliações com a ditadura nos anos 1980. Dizíamos que quanto mais recuássemos, mais a ditadura nos arrancaria tudo até que chegasse a nos tirar “a voz da garganta”.
Os setores que acreditavam nisso fundaram o Partido dos Trabalhadores e a CUT. Foram aqueles que se recusaram a esmolar liberdades nos gabinetes. Preferiram as greves, o trabalho de base e a organização de grandes manifestações. Muitas vezes, sob ameaças de prisão, tortura e morte.
A manifestação anti-Copa realizada em 25/06, no Maracanã, foi dispersada a golpes de cassetete pela PM. A reportagem da Folha estava no local. Disse que “não havia nenhum tipo de confronto quando a PM agiu." Em São Paulo, o estudante da USP e militante de esquerda, Fábio Hideki Harano, foi preso sob falsas acusações.
Três décadas depois, avançamos muito. Mas aqueles que pisam flores não tiraram as botas de nossos canteiros.
O famoso poema costuma ser atribuído a Brecht ou Maiakovski. Na verdade, é do niteroiense Eduardo Alves da Costa. Mas a situação a que chegamos tem autoria confirmada. Governos estaduais e federal são igualmente responsáveis.
“Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”
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