É um erro pensar que um jornal é editado para fazer
jornalismo. Na verdade, ele é editado para publicar publicidade. O jornalismo é
o recheio do entorno dos anúncios. O papel dos jornalistas é subalterno e sua
função primordial é proporcionar a melhor tiragem para obter a venda mais fácil
e o melhor preço do espaço publicitário no jornal.
Estas palavras foram ditas por Janio de
Freitas no mais recente documentário de Jorge Furtado. A excelente produção traz
entrevistas com vários jornalistas importantes. Ao lado do próprio Janio, estão
Mino Carta, Raimundo Pereira, Geneton Moraes, Bob Fernandes e muitos outros. Além
disso, o filme intercala os depoimentos com trechos da peça teatral do
dramaturgo inglês Ben Jonson, “O Mercado de Notícias”, que dá nome ao filme.
Na peça de Jonson, o personagem principal é
Dona Pecúnia. É para conquistá-la que os mercadores de notícia se desdobram em
seu ofício. Mas quem poderia mostrar quais são os meios para seduzi-la é outra
personagem, que não aparece na obra teatral, nem no filme de Furtado. Trata-se
de Dona Hegemonia. É ela que sabe quais os ingredientes capazes de obter o
produto que torna possível conquistar a “melhor tiragem”. Trata-se da
credibilidade.
A credibilidade trabalha com as crenças,
costumes, hábitos, preconceitos, medos e outros elementos do senso comum. Tais
ingredientes devem ser organizados de modo a justificar a ordem social em que
vivemos. Mesmo sendo injusta, violenta e opressora, ela deve ser aceita e
elogiada. Esta é a mercadoria da linha de produção em que trabalham os
jornalistas a serviço de Dona Pecúnia e sob orientação de Dona Hegemonia.
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