Uma das forças mais importantes no cenário da Revolução de Outubro
eram os cossacos. Este povo originário das estepes da Ucrânia e sul da Rússia
eram famosos por sua coragem e bravura, mas também por sua independência. Seus
chefes eram os “atamãs”
Durante o processo revolucionário, muitos cossacos ameaçavam se
alinhar aos contrarrevolucionários, desconfiados da rebeldia bolchevique.
Sendo quase impossível vencê-los, era fundamental neutralizá-los. É o
que mostra o episódio abaixo, retirado do livro “História da Guerra Civil Russa
1917 – 1922”, de Jean-Jacques Marie:
O bolchevique Dybenko, responsável pelo Soviete
da Marinha do Báltico, acompanhado por um único marinheiro, desembarca na noite
de 31 de outubro, às três da madrugada, no quartel dos cossacos do atamã
Krasnov em Gatchina, a 30 quilômetros de Petrogrado. Convida os que estão
acordados a ouvi-lo, apesar da grande hostilidade dos oficiais. Numa sala em
que o contorno dos rostos é pouco a pouco apagado pela fumaça dos cigarros, ele
resgata a história da revolução de fevereiro até outubro e denuncia a política
do governo provisório. Alguns oficiais o interrompem várias vezes, gritando
“Cossacos, não acreditem neles!”, “São traidores da Rússia!”, “Expulsem esses
espiões alemães”, “Batam neles!”, mas ninguém ousa pegar as armas e abater os
dois bolcheviques. À medida que Dybenko fala, outros cossacos acordam e vão
encher a sala, pequena demais para todos. Eles ouvem atentamente, indiferentes
às vociferações dos oficiais, e fazem perguntas. Dybenko responde durante cinco
horas, até às 8 da manhã; os cossacos decidem permanecer neutros entre os
bolcheviques e Kerensky. É uma vitória da palavra, ou seja, da política.
Ou uma vitória da coragem política.
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