Doses maiores

22 de junho de 2023

Junho de 2013 como final de uma longa onda progressista

Retomando as contribuições de Rudá Ricci para o debate sobre Junho de 2013, vale a pena ler um recente artigo de autoria dele. Principalmente, quando cita o que chamou de “ciclo virtuoso do final do século XX”, referindo-se à década de 80, quando surgiram PT, CUT e MST no Brasil. Três grandes forças forjadas nas grandes lutas contra a ditadura de 64.

O período é lembrado porque, para o sociólogo, 2013:

...pode ser compreendido como o estertor da onda progressista inaugurada na década de 1980. Não como o desaguadouro do movimento surgido com a Nova República, mas como sua negação, retomando parte da ousadia dos movimentos sociais daquela década. Lembremos que aqueles movimentos surgidos nas últimas duas décadas do século XX eram anti-institucionalistas, pregavam a radical autonomia frente aos governos e partidos e adotavam uma agenda de radicalização da democracia e controle social sobre as políticas públicas. Algo que ressurgiu nos discursos difusos de junho de 2013.

O que parecia uma mobilização potente, possivelmente foi um suspiro final da onda progressista iniciada na transição democrática. Suspiro sufocado em plena democracia, sob comando de um partido progressista que governava o país pela terceira vez consecutiva.

Ora, fenômenos sociais desse tipo jamais se acabam simplesmente. Sua superação acontece de forma dialética, na qual alguns de seus elementos se esgotam, outros mudam de forma e novos vêm à luz.

Nosso desafio maior é descobrir nesse processo os elementos capazes de apontar caminhos para a transformação social aqui e agora, ao invés de nos dedicar a acusações paranoicas e caças às bruxas entre as próprias fileiras da esquerda socialista.

Leia também: Junho de 2013: serpentes e possibilidades

Um comentário:

  1. Tá ótimo, concordo com a metáfora, e não só com ela, dos dois últimos parágrafos.

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