Nos países capitalistas, entre o explorado e o poder interpõe-se uma multidão de professores de moral, de conselheiros, de “desorientadores”. Nas regiões coloniais, ao contrário, o policial e o soldado, pelas suas intervenções diretas e frequentes, mantêm o contato com o colonizado e aconselham-no, com golpes de coronha ou incendiando as suas palhoças, que não faça qualquer movimento. O intermediário do poder utiliza uma linguagem de pura violência. O intermediário não mitiga a opressão, nem encobre mais o domínio. (...) O intermediário leva a violência à casa e ao cérebro do colonizado.
A cidade do colono é uma cidade farta, indolente e está sempre cheia de coisas boas. A cidade do colonizado, indígena, negra, árabe, é um lugar de má fama, povoado por homens também de má fama. Ali, nasce-se em qualquer lado, de qualquer maneira. Morre-se em qualquer parte e não se sabe nunca de quê (...). A cidade do colonizado é uma cidade esfomeada, por falta de pão, de carne, de sapatos, de carvão, de luz. A cidade do colonizado é uma cidade agachada, de joelhos, a chafurdar.
Os trechos acima são de “Os Condenados da Terra”, de Frantz Fanon, psiquiatra e filósofo da Martinica. O livro é de 1961, mas meio século depois, mantém-se atual porque a luta contra a colonização nunca terminou.
Afinal, grande parte das sociedades contemporâneas continuam divididas em duas realidades radicalmente desiguais. Uma cheia de coisas boas, outra que chafurda. Uma tomada por moralistas “desorientadores”, outra coalhada de soldados. Uma farta e indolente, a outra governada à base de coronhadas.
Em breve, mais comentários sobre essa importante obra.
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