Doses maiores

31 de outubro de 2012

Quem lucra com o caos urbano

Finadas as eleições, prefeitos eleitos ou reeleitos administrarão grandes cidades cada vez mais inviáveis. Dificilmente será diferente em um país que incentiva a compra de automóveis. Ou adota um programa habitacional que constrói mais bairros dormitórios. Modelo que provoca enormes migrações de um lado a outro das metrópoles duas vezes ao dia.

A combinação entre “Minha casa, minha vida” e IPI menor para carros mantém a situação descrita pela reportagem “As cidades na ponta do lápis”, publicada no Valor em 26/10. Entre outras coisas, o texto de Diego Viana diz que a mobilidade urbana deficiente nas cidades brasileiras consome até R$ 40 bilhões anuais. Já a poluição atmosférica custa até R$ 17 bilhões em doenças respiratórias, só em São Paulo.

A matéria só não explica que tais prejuízos atingem principalmente os trabalhadores e a infraestrutura pública. E que esta é custeada basicamente pelos impostos cobrados daqueles.

Afinal, não há notícia de diminuição do faturamento dos empresários por causa do caos urbano. Suas fábricas poluem. Os carros que fabricam entopem as ruas. A especulação de que se beneficiam faz disparar o preço dos imóveis. Eles concentram enormes lucros e dividem os prejuízos ambientais com a grande maioria da população.

Nem com o trânsito, os grandes empresários sofrem. Têm à disposição a maior frota de helicópteros do mundo. A miséria, o estresse e o sofrimento ficam no chão. No ar, a elite voa como abutres gordos. Apenas observam a confusão no formigueiro lá embaixo. Devem acreditar que o que vem debaixo não pode atingi-los. Melhor não confiar nisso. Nossas metrópoles estão se tornando barris de pólvora.

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3 comentários:

  1. Costumo ler seus artigos, que em geral, são bons.Contudo, o que me incomoda neles é a crítica pela crítica. Apontar dificuldades, erros e distorções é bastante fácil. O difícil é propor soluções verdadeiras, estruturadas e funcionais. As grandes cidades existem, e não há mais como desfazê-las. Me recordo que na oportunidade que Steve Jobs faleceu, um surto de comentários sobre ele ser um capitalista, dele ser um criador de falsas necessidades etc etc, apareceram. Até ai nada de mais. O ruim foi ler isso enviado via iphone de um possível anticapitalista, militante de algum partido, que o nome me escapa. Quais são suas propostas de reforma urbana? Imaginando que elas venham a acontecer, você terá algo para falar, ou sua fonte verbal emana apenas dos problemas?

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    1. Caro(a) "Primeira Assessoria", não considero que todos os meus textos sejam marcados pela "crítica pela crítica". Em alguns deles, isso acontece, é verdade. Mas, em outros, costumo apontar a saída pela mobilização popular através de seus vários instrumentos como partidos e sindicatos. Todos muito imperfeitos, claro. Só não espere propostas técnicas de minha parte, nem que elas apostem nas atuais instituições “democráticas”, como parlamentos, governos e tribunais, todas voltadas para os interesses da minoria rica. Todas, reafirmo. Apesar de algumas estarem mais sujeitas a pressões dos setores populares. Por outro lado, as pílulas têm um caráter de agitação. Quem agita, não elabora "propostas técnicas e concretas". Muito menos quando se defende a revolução socialista. É a serviço dessa ideia simples e extremamente complicada que escrevo meus modestos textos. No mais, obrigado pelo contato.
      Abraço!

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