“Não temos o complexo de
vira-latas”, disse Dilma Roussef, recentemente, em resposta aos críticos da Copa
do Mundo.
A expressão foi usada por Nelson
Rodrigues, logo depois da derrota da seleção brasileira na Copa de 1950. Mas também serviria para a situação de inferioridade em que os brasileiros se colocariam
diante do resto do mundo.
Muitos intelectuais da elite
realmente acreditavam, e acreditam, nesta inferioridade. E ela se deveria ao
caráter mestiço do povo brasileiro. Certa vez, Monteiro Lobato, por exemplo, disse que o Brasil era “filho de pais inferiores”. Seu povo, desprovido do
“sangue de alguma raça original”.
Mais recentemente, a
mestiçagem ganhou caráter positivo. Mas começou a ser utilizada para esconder o
racismo brasileiro. “Aqui não há racismo”, dizem. “Somos todos juntos e
misturados”. Discurso desmentido pelas condições de vida muito piores
reservadas à população negra.
De qualquer maneira, pureza
de raça nunca foi vantagem. Ao contrário, a biologia já provou que a diversidade
só traz benefícios. O melhor exemplo são exatamente os vira-latas. Aqueles cães e
gatos sem raça definida, que enchem as ruas das cidades brasileiras.
Resultado da mistura constante
de raças, a falta de pedigree do vira-lata é compensada por muitas vantagens.
Entre elas, a resistência a doenças e a inteligência estimulada pela necessidade de
sobreviver. A mesma que os torna fiéis companheiros de quem os acolhe.
Nos jogos da Copa, os que têm
pedigree estarão nas áreas Vips dos estádios. Desfrutando do conforto pago pela
grande maioria formada por vira-latas. Mas muitos destes últimos estarão nas
ruas, protestando. Oprimidos e explorados, juntos e misturados.
Somos vira-latas. Nunca
desistimos!
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para todos os desgostos
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