Ainda que legítima, quais seriam os
riscos implicados nessa busca pela ocupação do “centro do processo
decisório"? O entrevistado afirma, por exemplo, que “os negros foram
alijados de toda a estrutura social, a eles foram renegados vários direitos
fundamentais”.
Não há o que discordar da primeira
parte da afirmação. Mas que os negros tenham sido alijados de “toda a estrutura
social” já não é tão certo. Seu lugar na sociedade brasileira sempre foi muito bem
delimitado. É o de servir, principalmente, como força-de-trabalho superexplorada
e alvo prioritário da violência estatal.
Mas se considerarmos as instituições
do poder, destas sim, a população negra e favelada está absolutamente excluída.
O problema é que o lugar social que esses setores ocupam na sociedade é produto
inseparável dessa mesma institucionalidade.
Ou seja, seria possível transformar uma
estrutura social extremamente injusta ocupando instituições cuja principal missão
é mantê-la? Os criadores da Frente Favela Brasil acham que sim. Do contrário, não
estariam buscando registro eleitoral e discutindo a possibilidade de lançar
candidaturas nas próximas eleições.
Mas não é o que indicam as experiências
de vários setores populares que tentaram transformar radicalmente suas condições
de vida através de representações parlamentares e governamentais. Diante disso,
os “favelistas” poderiam alegar que o que faltou nessas experiências foi exatamente
o corte social que estão propondo.
Pode ser, mas são grandes as chances
de que ocorram enormes frustrações.
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