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23 de agosto de 2021

O fim do amor: uma sociologia das relações negativas

Sob a égide da liberdade sexual, os relacionamentos heterossexuais assumiram a forma de um mercado – encontro direto entre ofertas e demandas emocionais e sexuais, fortemente mediado por objetos e espaços de consumo e pela tecnologia.

Os encontros sexuais organizados como um mercado são vividos tanto como escolha quanto como incerteza. Ao permitir que os próprios indivíduos negociem as condições de seu encontro com muito poucas regras ou proibições, essa forma de mercado cria uma insegurança cognitiva e emocional generalizada. O conceito de “mercado” não é aqui simplesmente uma metáfora econômica, mas é a forma social assumida por encontros sexuais que são impulsionados pela tecnologia da internete e pela cultura do consumo.

Nossa modernidade contemporânea hiperconectada parece ser marcada pela formação de vínculos indiretos ou negativos. Nessa modernidade em rede, a não formação de vínculos torna-se um fenômeno sociológico em si, uma categoria social e epistemológica por si só. Se a primeira e a alta modernidade foram marcadas pela luta por certas formas de sociabilidade onde o amor, a amizade, a sexualidade estariam livres de restrições morais e sociais, na modernidade em rede a experiência emocional parece escapar às classificações emocionais e relações herdadas de épocas onde os relacionamentos eram mais estáveis.

Os relacionamentos contemporâneos se encerram, se rompem, se desvanecem, se evaporam e seguem uma dinâmica de escolha positiva e negativa, que entrelaça laços e não-laços.

As palavras acima resumem a principal linha de argumentação do livro “The End of Love: A Sociology of Negative Relations”, de Eva Illouz. É sobre como o capitalismo transforma os sentimentos sociais. E como isso causa muito sofrimento.

Continua...

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