Doses maiores

31 de agosto de 2021

Modernidade hiperconectada e cultura do desamor

Em seu livro “The End of Love: A Sociology of Negative Relations”, Eva Illouz afirma que:

A escolha negativa é tão poderosa e presente na vida das pessoas na modernidade hiperconectada quanto foi, na formação da modernidade, a escolha positiva no sentido de formar laços e relações com outras pessoas.

Afinal, continua ela:

Se a expansão do capitalismo foi baseada no crescimento populacional e na família como a estrutura mediadora entre a economia e a sociedade, essa conexão está sendo cada vez mais desfeita pelas próprias novas formas de capitalismo. O capitalismo é uma máquina formidável de produzir bens, mas não é mais capaz de garantir as necessidades sociais de reprodução, levando ao que a filósofa Nancy Fraser chamou de “crise do cuidado”.

Sob a influência massiva de novas plataformas tecnológicas, essa "liberdade" teria criado agora um número tão grande de possibilidades que as condições emocionais e cognitivas para a escolha romântica foram radicalmente transformadas.

Um exemplo é o sucesso que fazem plataformas como o Facebook, que apresenta como uma de suas características mais importantes tanto a multiplicação das “amizades” quanto seu rápido rompimento. Outros exemplos são o Tinder ou o Match.com, sendo estes diretamente voltados para os encontros sexuais.

A era contemporânea demanda talvez outro tipo de sociologia, que foi provisoriamente chamada por Eva de “estudo da crise e da incerteza”.

Pensando nisso, ela conduziu entrevistas com 92 pessoas na França, Inglaterra, Alemanha, Israel e Estados Unidos, entre 19 a 70 anos de idade. Uma pesquisa atenta aos “praticantes dessa nova cultura do desamor”. Grande parte das conclusões da autora baseiam-se nesses dados.

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