Moritz Altenried é pesquisador da Universidade Humboldt, de Berlim, e lançou recentemente um livro sobre o trabalho em plataformas digitais. Ainda sem edição em português, o título original em inglês pode ser traduzido como “A Fábrica Digital - O Trabalho Humano da Automação”.
O autor começa dizendo que, aparentemente, as fábricas perderam o papel central que ocuparam por mais de um século na maioria das análises sobre o capitalismo. Mas isso não quer dizer que não haja uma lógica fabril que persistiu para além do declínio das grandes construções de cimento e aço. Altenried enxerga essa dinâmica, especialmente, em empresas como Google, Amazon, Facebook, Uber e outras gigantes do chamado capitalismo de plataforma. Segundo ele, a investigação presente no livro:
...abrange locais que nem sempre parecem fábricas, mas onde sua lógica e funcionamento estão muito presentes, frequentemente acelerados pela crescente difusão da tecnologia digital. São funcionários de digitalização do Google na Califórnia; trabalhadores de depósitos na Alemanha ou Austrália; testadores e elaboradores de jogos eletrônicos ou moderadores de conteúdo na China e Filipinas; entregadores da Deliveroo ou avaliadores de mecanismos de busca no Reino Unido e Hong Kong; motoristas do Uber em Berlim e Nairóbi. Todos estes trabalhadores estão imersos na fábrica digital de hoje.
Esse contingente é formado principalmente por mulheres e migrantes precarizados e mal pagos, fazendo tarefas que a maioria das pessoas acha que são realizadas por algoritmos. Suas atividades são uma parte crucial, mas esquecida, do capitalismo digital contemporâneo. Tão ou mais exploradoras, opressoras e ambientalmente insustentáveis como aquelas desempenhadas em lugares encimados por chaminés.
Mais nas próximas pílulas.
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