Como já vimos, apelar às verdades científicas para combater as fake news é insuficiente e contraditório. O mesmo vale para o jornalismo.
Por décadas, a esquerda denunciou e combateu os monopólios de comunicação, controlados pelo grande capital e a serviço das classes dominantes. É o que mostram, por exemplo, o apoio à ditadura militar, o boicote às Diretas-Já, o favorecimento a Collor e a campanha pelo impeachment de Dilma. São episódios que evidenciam a atuação desse verdadeiro partido informal na defesa da ordem conservadora.
Ocorre que, à medida que a esquerda ganhava espaço nos governos e parlamentos, deixava de lado o combate aos impérios midiáticos, ao mesmo tempo em que se afastava do cotidiano das camadas populares. Confundimos luta contra-hegemônica com disputa eleitoral.
Livres para atuar, lideranças conservadoras se aproveitaram dessas contradições para convencer vastos setores populares de que os veículos da grande mídia são utilizados pelos comunistas para atacar os “sagrados” valores patriarcais, cristãos, nacionalistas e hierárquicos.
De modo oportunista, a extrema-direita declarou guerra contra algumas alas do partido midiático, como os grupos Globo e Folha. Diante disso, a defesa que muitos de nós, corretamente, assumem da atividade dos jornalistas é distorcida de modo a parecer cumplicidade com seus patrões. Para piorar, setores importantes da esquerda passaram a confiar à grande imprensa a tarefa de resistir às mentiras e distorções da extrema-direita.
Esses elementos mostram que a atividade jornalística, por si só, é incapaz de resistir às ofensivas mentirosas do fascismo. Afinal, como disseram Marx e Engels, nas sociedades de classe, as ideias dominantes tendem a ser as ideias das classes dominantes.
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