Doses maiores

15 de maio de 2023

Mais uma história suja: ginecologia racista

O estadunidense James Sims é considerado o pai da ginecologia. Ainda hoje, costuma ser homenageado por seus feitos no exercício da medicina voltada para a saúde das mulheres, durante o século 19. Não deveria.

Seus métodos de investigação incluíam fazer experimentos em mulheres escravizadas. Uma delas foi Anarcha Westcott, jovem de 17 anos. Grávida, ela sofria de raquitismo crônico, condição que dificultava o parto.

Sims se ofereceu para ajudar no nascimento da criança e Anarcha sofreu por três dias em suas mãos. Apesar de métodos anestésicos já estarem disponíveis, a intervenção foi feita a sangue frio.

Na época, acreditava-se que as mulheres negras sentiam menos dores. Ainda hoje, muita gente crê nisso, incluindo médicos.

A criança nasceu saudável, mas a jovem escravizada continuou servindo de cobaia para Sims. Foram mais 30 operações experimentais. Sempre sem anestesia.

Somente depois de aprovadas como seguras e eficientes, as intervenções cirúrgicas eram feitas em mulheres brancas, devidamente anestesiadas.

Estima-se que cerca de 75 mulheres escravizadas passaram pelo mesmo tormento. Foi o caso das também jovens Betsy e Lucy. Hoje, as três estão representadas em um conjunto de esculturas no Central Park. O monumento substituiu a estátua de James Sims, retirada em 2018, após as denúncias contra ele ganharem maior publicidade.

Ainda que trágico e revoltante, esse é só um pequeno capítulo da história racista da medicina e da ciência em geral. Seria necessário instalar muitos tribunais de Nuremberg. No lugar disso, há muitos genocidas espalhados pelas datas comemorativas de nossos calendários.

Leia também: A suja história da eugenia: a vitória nazista

Um comentário:

  1. Como é triste o barbarismo que foi realizado por tantas pessoas "ilustres" da saúde

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