Embora seja verdadeiro que a arte
comercial esteja sempre em perigo de terminar como uma prostituta, é igualmente
verdadeiro que a arte não comercial corre sempre o risco de terminar como uma
solteirona.
A afirmação não
faria sentido antes do século 19. Até essa época, não havia como a arte ser comercial
ou não. Ela não tinha autonomia suficiente para escolher entre rodar a bolsinha
ou passar as noites na solidão. Estava a serviço da religião e da aristocracia.
A arte como atividade independente é recente e burguesa. Como tal, nos deu muitas
obras maravilhosas. Mas autonomia não é o mesmo que liberdade. Aos poucos, a criação
estética foi se subordinando às leis do mercado.
Em 2004, a obra
"A Impossibilidade Física da Morte na Mente de Alguém Vivo” foi comprada
por 12 milhões. Ela é de Damien Hirst e consiste num tubarão de 5 metros de
comprimento mergulhado em um tanque de formol.
Qual é o significado
dessa obra? Só pode ser o mesmo que vale para muitas outras coisas na vida
moderna. É boa porque custa caro e não o contrário. Para os bilhões de pessoas
distantes desse tipo de atividade mercantil, não tem a menor importância.
O capitalismo está
conseguindo transformar a prostituta numa solteirona. Vale muito dinheiro para alguns poucos. Mas nem estes, nem ninguém mais quer saber dela. O livre mercado
libertou a atividade artística de suas antigas amarras. Agora, precisamos livrá-la
das prisões econômicas do mercado.
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Genial, Serjão!!! Acho a mercantilização, ou melhor, a mercadorização da arte e da cultura um dos aspectos mais perversos da ideologia das classes dominantes. Acertou na veia!!! Mauro.
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