Serve de alívio que, entre nós, grande parte da poesia venha embalada pela tradição cancioneira
de nossa cultura. São muitas as belas rimas que costumam nos chegar envolvidas por ritmos
e harmonias.
A MPB já foi um
grande manancial poético. Em belo texto publicado no Globo de 01/08, Francisco
Bosco explica o motivo. É que essa corrente musical “simboliza justamente uma
ideia — ou ideologia — de conciliação entre as classes e ‘raças’”.
Segundo o filho
do grande João Bosco, a geração que criou a MPB foi formada por “universitários,
na maioria brancos (ou brancos simbólicos), que aprofundavam relações a um
tempo com o Brasil popular e com o que havia de mais contemporâneo no mundo”.
Mas os
conflitos de classe, tingidos fortemente pelo racismo, vêm desmentindo essa “utopia”
há décadas, diz ele. Poder econômico e preconceito de cor inviabilizam a leveza
de quase toda a poesia. Daí, Bosco lembrar a importância das rimas ásperas dos
Racionais.
Afinal, a
poesia está presente na própria definição do rap, sigla para “rhythm and poetry”.
É que, em tempos de combate, a poética precisa se subordinar ao ritmo. Os manos
e minas das periferias e morros não podem dar-se o luxo do canto suave.
Enquanto isso,
precisamos manter a busca por “todo o sentimento” e pelo “tempo da delicadeza” de
que fala a canção de Chico Buarque e Cristóvão Bastos.
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