Em seu livro "A nova razão do mundo", Pierre Dardot e Christian Laval descrevem os traços que caracterizariam a razão neoliberal.
Para começar, diferente do liberalismo clássico, que se apresentava como produto natural do livre intercâmbio econômico, o neoliberalismo se assume explicitamente como projeto a ser construído. Daí, o caráter extremamente ofensivo da imposição de suas políticas.
Os neoliberais também defendem que a essência da ordem de mercado reside na concorrência, não na troca. E resguardar o princípio da concorrência a qualquer custo seria missão do Estado.
Mas o próprio Estado deve se submeter ao império da concorrência, sendo obrigado a ver a si mesmo como uma empresa, tanto em seu funcionamento interno como em sua relação com os outros Estados. E, na condição de empreendedor, deve conduzir os indivíduos a comportarem-se como empreendedores.
Essa racionalidade estatal apaga a separação entre esfera privada e esfera pública, sujeitando a ação pública aos critérios da rentabilidade e da produtividade. Como consequência, toda a reflexão sobre a administração pública adquire um caráter técnico. Governar passa a ser uma atividade para especialistas. A atividade política que pressupõe debate e conflitos torna-se um mal desnecessário. A democracia, um incômodo.
Por fim, promove-se um combate aos direitos até então ligados à cidadania. “Nada de direitos se não houver contrapartidas”. No lugar do cidadão da sociedade liberal, o empreendedor, sujeito ao qual a sociedade não deve nada.
Todos esses traços do neoliberalismo, dizem os autores, enterraram de vez qualquer ilusão quanto à “democracia liberal”. Ainda assim, forças de esquerda se renderam a essa lógica. É o que veremos a seguir.
Leia também: O neoliberalismo como subjetivação capitalista
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