Seguimos comentando o livro "A nova razão do mundo", de Pierre Dardot e Christian Laval. Esses autores entendem que o neoliberalismo não é mera reedição do liberalismo clássico de um Adam Smith, por exemplo.
O neoliberalismo teria mais a ver com formulações como a de Herbert Spencer, filósofo do século 19, que fez uma leitura distorcida da teoria darwiniana para fazer um paralelo entre a evolução econômica e a evolução das espécies.
Nessa formulação, o princípio da competição se sobrepunha ao da reprodução, dando origem, assim, ao que foi chamado de “darwinismo social”. Um equívoco, já que Darwin sustentava que a civilização se caracterizava sobretudo pela prevalência de “instintos sociais” capazes de neutralizar os aspectos eliminatórios da seleção natural e acreditava que o sentimento de simpatia estava destinado a estender-se indefinidamente.
O mesmo pode se dizer de pensadores clássicos do liberalismo, como Smith e Ricardo, para os quais o aumento geral da produtividade média que decorre da especialização, beneficiaria a todos na troca comercial. Não se tratando, portanto, de uma dinâmica que eliminaria o pior dos sujeitos econômicos, mas uma lógica de complementaridade que melhoraria a eficácia e o bem-estar até do pior dos produtores.
Ou seja, não se trata de um processo de eliminação seletiva, que condena, por exemplo, a ajuda aos mais necessitados, seguindo uma lei implacável da vida, cujo mecanismo de progresso funcionaria por eliminação dos mais fracos.
No entanto, é o modelo econômico cruel de Spencer que inspira o neoliberalismo. Algo que ficou ainda mais claro à medida que essa doutrina tornou-se política estatal mundo afora, desde o final do século passado.
Leia também: O neoliberalismo como modo de governar
Devia até ter outro nome, né?
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