Deu nos jornais. Um manifesto assinado por mil especialistas pede “uma pausa” no desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial. O maior temor é que a humanidade perca o controle sobre o processo.
Vem a calhar uma recente entrevista com Edemilson Paraná, professor de sociologia da Universidade Federal do Ceará e pesquisador na área de tecnologia e mercado financeiro. No depoimento concedido à revista DigiLabour, ele faz um alerta:
A gente fala contemporaneamente em algoritmos, no Vale do Silício, nas empresas de comunicação e de interação social, mas na verdade os algoritmos estão sendo aplicados no mercado financeiro desde a década de 1980. A gente fala de redes neurais, “machine learning” e “deep learning” para os produtos informacionais e educacionais contemporâneos, mas eles já estão sendo aplicados no mercado financeiro antes mesmo de terem se tornado algo presente no cotidiano das nossas interações sociais.
A utilização da IA nesse setor acontece no nível micro das operações setorizadas e investimentos localizados. Mas, diz ele, no nível macro, pode causar aumento do risco, da imprevisibilidade e da ineficiência.
Imprevisibilidade e alto risco sempre foi regra nesse cassino financeiro. Sua eficiência servindo somente a uma minoria. Já seus efeitos nocivos costumam causar grandes tragédias sociais para a grande maioria, como mostram as inúmeras crises especulativas já ocorridas. A última delas nos castiga desde 2008.
O tal manifesto dos especialistas deveria mudar seu foco. A IA é apenas um dos desdobramentos de um sistema sobre o qual a humanidade nunca teve muito controle, com consequências cada vez mais desastrosas. No lugar de uma pausa na IA, precisamos de stop no capitalismo.
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