Muito do que parece ser resultado das alterações climáticas é, na verdade, promovido por políticas de racismo e exclusão incorporadas à lógica do capitalismo fóssil. É assim que Ian Angus introduz o conceito de “exterminismo” em seu livro “Enfrentando o Antropoceno”.
Em 1980, o historiador inglês E. P. Thompson, diz ele, criou o termo “exterminismo” para descrever as possíveis consequências da corrida nuclear.
Mas Angus prefere citar o escritor estadunidense Stan Goff, que utiliza o conceito de Thompson em seu relato sobre o Katrina, desse modo: “O exterminismo é a aceitação explícita ou não de mortes em massa como preço a ser pago pela preservação do poder econômico e político da classe dirigente. O exterminismo não se caracteriza por ações ofensivas, mas, frequentemente, ocorre por negligência calculada. Seus instrumentos são pobreza, doença, subnutrição e catástrofes ‘naturais', geralmente facilitadas pelo isolamento econômico e deslocamento populacional em massa”.
Nos dias que se seguiram ao furacão Katrina, em 2006, várias centenas de pessoas, incluindo bebês de colo e idosos cadeirantes, tentaram deixar Nova Orleans atravessando uma ponte para Gretna, cidade do outro lado do Rio Mississipi. Mas a força policial da localidade impediu o acesso, disparando tiros para o ar. As autoridades locais não permitiriam a entrada de “desabrigados” negros em Gretna.
Portanto, não surpreende o fato de que 46% dos moradores das áreas mais atingidas pelo Katrina fossem negros, em comparação com os 26% das áreas sem maiores estragos.
Antropoceno e exterminismo são dois conceitos malditos criados pela sociedade industrial. Precisamos nos livrar do capitalismo fóssil, para que nunca mais precisemos usar palavrões como esses.
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