“Tem mais helicópteros de imprensa do que de resgate”. O depoimento é de Hudson Corrêa, repórter da Folha de S. Paulo, sobre as enchentes na região serrana do Rio. Foi publicado no site Comunique-se em 14/01. A frase é reveladora. Mais que salvar vidas é preciso produzir imagens trágicas. Montar um show para exploração da mídia empresarial.
A emoção é o ingrediente mais forte nessa receita espetacular. O desespero das vítimas. O heroísmo de bombeiros e voluntários. A coragem de repórteres e técnicos das empresas jornalísticas. Crianças que se salvam por milagre. A generosa colaboração popular. Tudo muito bonito, sem dúvida. Daí, as lágrimas, o choro, a comoção.
As principais e melhores conquistas sociais humanas são movidas por emoções. Nenhuma transformação social importante ocorreu sem a paixão da revolta. Sem a indignação contra as injustiças e a solidariedade no combate à exploração e à opressão.
O problema é transformar paixões tão humanas em fumaça lacrimogênea. É o que faz a grande mídia. Neste caso, trata-se de esconder o monopólio da terra. Desastre social que não faz estragos apenas na zona rural. Nossas principais cidades foram feitas e são administradas para minorias ricas e poderosas. À maioria pobre restam moradias ilegais, precárias, em locais perigosos.
Alguns dados até aparecem. Críticas consistentes emergem com dificuldade. Debates chegam a ser iniciados. Nada disso resiste muito tempo à enxurrada de lágrimas. É a dramaturgia jornalística ocultando o drama da violenta e injusta realidade urbana brasileira. Submersa nas águas podres da especulação imobiliária.
É de chorar, mesmo!
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